28 março 2017

Brasileiro com síndrome pós-pólio agradece governo japonês após ganhar cadeira de rodas elétrica.

OSNY ARASHIRO /ALTERNATIVA Online


Hamamatsu - Após passar por uma bateria de exames médicos e comprovar que a sua poliomielite, adquirida aos seis meses de vida, evoluiu na vida adulta para a síndrome pós-pólio (SPP), o brasileiro Antonio (nome fictício) recebeu do governo da província de Aichi uma cadeira de rodas elétrica, sem nenhum custo. 
Síndrome pós-pólio é a consequência da vítima da poliomielite (paralisia infantil) evoluída para um quadro mais grave, anos depois de adqurida. Por pensar que a pólio estacionou, justamente a SSP é de difícil diagnóstico e foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde somente em 2009, que a incluiu no CID – Código Internacional de Doenças. 
Por desinformação, muitos médicos diagnosticavam erroneamente. Foi o caso do Antonio. A partir de 2014, ele começou a sentir fortes dores no braço direito e formigamento. A princípio, o médico dizia que era devido ao uso da muleta. Acometido da pólio na perna direita, como poderiam imaginar que iria evoluir para o braço direito, quatro décadas depois?
Porém, ciente da existência da SPP, Antonio começou a se informar pois ele também pouco conhecia sobre esse mal. Lendo muito sobre as informações do neurologista Acary Souza Bulle Oliveira, de São Paulo, Antonio decidiu também consultar um neurologista em Aichi, ao inteirar-se de alguns dos principais sintomas descritos na literatura médica, sobre a SPP: 
- Fraqueza muscular nos músculos afetados pela poliomielite ou em partes não atingidas previamente;
- Dores nas articulações e músculos;
- Fadiga;
- Intolerância ao frio;
- Dificuldades respiratórias;
- Problemas para dormir. 
No dia 30 de junho de 2014, Antonio foi pela primeira vez consultar um neurologista para verificar a possibilidade de estar com SPP. Foram muitas consultas. 
Um aparelho interligou vários fios no braço com um computador para acusar o nível de ondas magnéticas e o grau de sensibilidade dos nervos. Fez exame de sangue e extraiu líquido da coluna cervical. 
Mediu também a força do braço e da mão com um dinamômetro e o resultado foi de 28 quilograma-força no braço esquerdo e 5 quilograma-força no direito. "Não consigo nem usar uma tesoura com a mão direita", afirma Antonio. 
Somente em agosto de 2016 saiu o laudo médico, confirmando que Antonio era portador de SPP (em japonês, Posuto Porio Shokogun). Ele recebeu nova carteira de deficiente físico, passando do grau 3 para 2. 
Prestes a completar 46 anos de idade, praticamente levou os mesmos 46 anos para diagnosticar ser portador da Síndorme Pós-Polio, uma vez que contraiu a poliomielite com seis meses de vida. 
Em seu retorno ao hospital para consultas de rotina, foi aconselhado pelo médico a usar uma cadeira de rodas, para economizar energia ao se movimentar, pois a SPP não estaciona e pode evoluir mais. 
Na maneira antiga da orientação médica, o ideal para o portador da paralisia infantil era fortalecer os músculos praticando atividades físicas e fisioterapia. Entretanto, com a descoberta da SPP, as atividades físicas, pelo contrário, devem ser reduzidas ao máximo, para economizar energia muscular do corpo. 
Esse foi o motivo explicado pelo médico para Antonio utilizar uma cadeira de rodas, embora ele não seja uma pessoa inválida. 
A princípio, Antonio recusou a cadeira de rodas. Até porque, pensava que teria de comprar de bolso próprio. O médico lhe explicou que ele tinha direito a receber do governo da província uma cadeira de rodas sem custos nenhum. Mesmo assim, foram necessários seis meses para mudar de ideia, após vários conselhos médicos. Quando Antonio concordou, seu médico o transferiu para o setor de fisioterapia tirar as medidas para confecionar uma cadeira de rodas. 

QUESTÕES BUROCRÁTICAS
Com o laudo médico e a solicitação da cadeira de rodas, Antonio deu entrada à requisição no Fukushika – a Divisão de Bem Estar Social, setor de Deficientes Físicos. 
Com a administração municipal não teve problema nenhum. Difícil foi convencer os encarregados do governo da província. Chamado para entrevista, Antonio teve que explicar as razões para utilizar uma cadeira de rodas elétrica e não manual. 
Ele explicou que justamente para poupar energia muscular, deveria usar cadeira de rodas elétrica. Se fosse manual, seu esforço físico seria bem maior, teria de conduzí-la com as próprias mãos e o seu braço direito não tinha forças. 
Antonio percebeu que eles queriam "empurrar-lhe" uma cadeira manual por ser mais barata. Mediante tantas barreiras burocráticas, perdeu a paciência e mandou os encarregados da província estudarem mais sobre doenças: "Vocês que lidam com portadores de deficiências físicas, desconhecem os problemas da síndrome pós-pólio? Vocês precisam estudar mais!"
Os médicos – neurologista e fisioterapeuta - também foram questionados pelo órgão da província, para explicar quais as razões da necessidade de uma cadeira de rodas elétrica e não manual. Vencidas essas burocracias, concordaram em conceder o benefício. 
A cadeira de rodas elétrica ficou pronta e no dia 1º de março ele foi retirá-la no hospital.
Apesar das dificuldades em ser reconhecido como portador de SPP para receber sua cadeira de rodas elétrica, Antonio faz questão de manifestar seu agradecimento ao governo do Japão por esse benefício recebido. 
Ele prefere não revelar o preço de uma cadeira de rodas elétrica, mas afirma ser cara. Também foi preciso comprovar baixa renda mensal e esclarece que não é somente o portador de SPP que tem direito a receber esse benefício. Cada caso é um caso e o interessado deve esclarecer suas dúvidas no setor de Deficiente Físico, no Fukushika da prefeitura local. 

Avaliação do gasto energético em indivíduos com síndrome pós-poliomielite - Avaliação do consumo energético dos indivíduos com síndrome pós-poliomielite



Roberto Dias Batista Pereira; Tatiana Mesquita e Silva; Abrahão Augusto Juviniano Quadros; Marco Orsini; Beny Schmidt; Helga Cristina Almeida Silva; Acary Souza Bulle Oliveira.

scielo.br



O objetivo deste estudo foi identificar o gasto energético, retrospectivamente, em indivíduos com síndrome pós-poliomielite (PPS) na população brasileira.
Métodos
Foi utilizado o questionário para avaliação da atividade física habitual (AFH) nos pacientes com PPS, sequela de poliomielite (SP) e grupo controle (GC). Participaram do estudo 116 indivíduos (PPS = 52, SP = 28, GC = 36).
Resultados
Pacientes com PPS tendem a aumentar a AFH dos 10 aos 20 anos, comparados com os grupos SP e GC. No período dos 21 aos 30 anos, houve aumento significativo da atividade física ocupacional do grupo PPS em relação ao grupo SP e atividade física ocupacional (21-30 anos) correlacionou-se com o aparecimento dos sintomas da PPS.
Conclusão
Pacientes com PPS apresenta maior gasto de energia durante uma vida, especialmente na atividade física ocupacional nas idades 21-30 anos, sugerindo que esta é uma crítica para o desenvolvimento da PPS.
Palavras-Chave: síndrome pós-poliomielite; Poliomielite; Metabolismo energético.
A síndrome pós-poliomielite (PPS) é um efeito tardio da poliomielite, classificada como neuronopatia motora, uma vez que os aspectos clínicos e histológicos estão intimamente relacionados à disfunção dos neurônios motores inferiores. A frequência de PPS varia de 22% a 80% em diferentes estudos internacionais. Um estudo brasileiro mostrou uma frequência de 77,2% em pacientes classificados como PPS, sendo 62,8% mulheres e 37,2% homens.
O PPS geralmente ocorre 30-50 anos após a infecção aguda da poliomielite. É caracterizada por novos sintomas ou piora de sintomas residuais anteriores, tais como: fraqueza nova, fadiga muscular, nova atrofia, dor muscular, dor nas articulações e intolerância ao frio. Atualmente, é reconhecida como uma entidade da doença definida pela Organização Mundial de Saúde, e está representada no Código Internacional de Distúrbios (ICD10 / G14).
Diferentes hipóteses têm sido propostas para a fisiopatologia do PPS, mas a mais aceita é a teoria do "overuse" (sobrecarga ou overtraining), proposta por Charcot  e defendida por outros.
A característica mais importante do PPS é o desenvolvimento de uma nova fraqueza muscular. Esta nova fraqueza pode ocorrer em músculos que já têm algum grau de fraqueza muscular ou músculos que foram previamente comprometidos, e posteriormente reinervados. Esta nova fraqueza inevitavelmente leva ao aumento do gasto energético para o desempenho da atividade física de rotina.
Alguns fatores de risco, como idade, gênero, severidade da paralisia, dor, intensidade do exercício muscular ou atividade física, podem contribuir para o desenvolvimento de PPS. As relações possíveis entre esses fatores e o metabolismo energético são de suma importância.
Diferentes métodos são utilizados para a avaliação subjetiva da atividade física habitual; A maioria deles é representada por questionários provenientes de estudos epidemiológicos. A avaliação da atividade física por questionário é um método que é influenciado principalmente pela capacidade das pessoas de se lembrarem.
O questionário de Baecke para a avaliação da atividade física habitual é um instrumento de recall fácil de aplicar e compreensível; É uma escala qualitativo-quantitativa e aborda aspectos como atividade física ocupacional, exercício físico em lazer e atividades de lazer e locomoção. Este instrumento tem sido utilizado em estudos epidemiológicos na população brasileira.
O objetivo deste estudo foi identificar o gasto energético, retrospectivamente, em indivíduos com PPS na população brasileira e verificar se a atividade física pode ser um fator predisponente para o desenvolvimento de PPS, ou piora dos sintomas do paciente.
MÉTODOS
Três grupos distintos de indivíduos foram avaliados: seqüelas de poliomielite (PS), PPS, e um grupo controle (CG). A população de interesse foi composta por pacientes com história de poliomielite paralítica submetidos a monitoramento ambulatorial na Unidade de Transtornos Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), no município de São Paulo, Brasil, e indivíduos saudáveis ​​(cuidadores de pacientes) , Entre os anos 2007-2009.
Os critérios de inclusão foram pacientes do sexo masculino e feminino com diagnóstico confirmado de pólio paralítico e PPS. Foram excluídos pacientes com idade superior a 60 anos e a presença de qualquer doença ou condição médica que pudesse levar à fraqueza muscular. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFESP e todos os pacientes envolvidos no estudo concordaram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Para avaliar a atividade física habitual, utilizamos o questionário de Baecke, que foi traduzido e validado em português por Florindo e Latorre.
O Baecke engloba três níveis de atividade física caracterizados por atividade física ocupacional (questões 1-8), exercício físico e atividades de lazer (perguntas 9-12), e atividades físicas de lazer e locomoção (questões 13-16), que compreendem a Avaliação da atividade física habitual. A pontuação total (TS) é a soma dos escores destes três níveis. As fórmulas para calcular o questionário Baecke foram:
TS = OPA + PEL + LLA
Vq = valor da pergunta
OPA = atividade física ocupacional
PEL = exercícios físicos em lazer
LLA = atividades físicas de lazer e locomoção
TS = pontuação total
O questionário de Baecke foi aplicado apenas uma vez aos três grupos (PS, PPS e CG), avaliando o histórico de atividade física ao longo da vida em períodos de 10-20 anos de idade, 21-30 anos de idade e nos últimos 12 meses, Excluindo as atividades ocupacionais no período de 10-20 anos, resultando em nove pontuações finais dos respectivos períodos.
Metodologia de aplicação dos questionários:
Para a classificação do gasto energético da atividade física ocupacional e os tipos de exercício que não estavam no perfil de padronização, utilizamos os estudos de Ainsworth et al. e McArdle et al. como referência. O primeiro estudo foi um esquema de codificação para a classificação do custo energético das atividades físicas humanas, e este propôs níveis de classificação do gasto energético humano da atividade física (baseado em um múltiplo da taxa metabólica em repouso).
Para a avaliação da fadiga, utilizamos a Escala de Gravidade da Fadiga. É composto de nove itens. Os indivíduos registram suas respostas de 1-7 (1 significa que discordam completamente e 7 indica que concordam inteiramente com a indicação). Esta escala avalia a queixa de fadiga nas duas semanas anteriores.
Também utilizamos a ferramenta abreviada de avaliação da qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde. Este questionário tem 26 perguntas, as duas primeiras são gerais e as outras 24 divididas em quatro domínios: físico (dom 1), psicológico (dom 2), relações sociais (dom 3), ambiente (dom 4) e global. Passos para verificar e limpar dados e computar facetas e resultados de domínio foram:
Recode q3 q4 q26 (1 = 5) (2 = 4) (3 = 3) (4 = 2) (5 = 1).
Calcula dom 1 = (média6 (q3, q4, q10, q15, q16, q17, q18)) * 4.
Calcula dom 2 = (média 5 (q5, q6, q7, q11, q19, q26)) * 4
Calcula dom 3 = (média 2 (q20, q21, q22)) * 4
Calcula dom 4 = (média 6 (q8, q9, q12, q13, q14, q23, q24, q25)) * 4
Calcular total = (média 2 (q1, q2)) * 4
As análises foram realizadas pelo software PRISM 3, comparando sua porcentagem por categoria, cálculo da média, mediana e desvio padrão.
Variáveis ​​contínuas com distribuição normal foram testadas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov.
A análise de variância (ANOVA) foi utilizada para comparar os grupos com dados paramétricos. Quando foram encontradas diferenças estatisticamente significantes, a análise foi complementada pelo teste de Tukey.
A análise de variância (Kruskall-Wallis) foi utilizada para comparar os grupos quando apresentados com dados não-paramétricos. Quando foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, a análise foi complementada pelo teste de Dunn.
A avaliação da correlação linear foi feita utilizando o coeficiente de correlação de Spearman (r). Para todos os testes, os resultados foram considerados estatisticamente significativos quando p <0,05.
RESULTADOS
Cento e dezesseis indivíduos participaram do estudo, 52 com PPS, 28 com PS e 36 no GC. A distribuição de gênero do CG foi de 19 mulheres (52,7%) e 17 homens (47,3%); No grupo PS: 17 mulheres (60,7%) e 11 homens (39,3%); E no grupo PPS havia 26 mulheres (50%) e 26 homens (50%).
A idade média para cada grupo foi: 42,86 ± 9,22 anos para o CG; 43,31 ± 6,91 anos para o grupo PS; E 43,83 ± 6,65 anos para o grupo PPS (variando de 30 a 59 anos). Medidas de tendência central e dispersão para variáveis ​​antropométricas, avaliadas por grupo, são apresentadas na Tabela 1 .
Tabela 1 Valores médios e desvios-padrão das características antropométricas dos grupos envolvidos no estudo.
Variável
CG (n = 36)
PS (n = 28)
PPS (n = 52)
Altura (cm)
170,5 ± 10,9 *
161,2 ± 8,0
163,4 ± 10,3
Peso (Kg)
74,6 ± 17,6
62,7 ± 15,8 **
68,7 ± 15,4
IMC (Kg / m2)
25,5 ± 4,1
23,8 ± 4,9
25,5 ± 4,1
Testar ANOVA (análise de variância de uma via); * P = 0,0007 vs PS e PPS; ** p = 0,0124 vs CG.
CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; IMC: índice de massa corporal.
A menor idade na qual a poliomielite aguda ocorreu foi de 23 dias e a maior foi de oito anos; A média foi de 19,71 meses (um ano e sete meses), com um desvio padrão de 16,8 meses (1,4 anos) e a mediana de 18 meses (nove e 24 meses). A idade média de início dos novos sintomas de PPS foi de 37,7 ± 6,3 anos (24-53 anos).
Na Escala de Gravidade da Fadiga, houve diferença significativa (p <0,0001) entre o CG (17,56 ± 11,4), o PS (27,29 ± 20,5) e o grupo PPS (51,48 ± 14,21). O grupo PPS apresentou maiores escores de fadiga, com 92,3% dos pacientes sendo classificados com fadiga. Por outro lado, nos grupos PS e PPS, não houve relação entre fadiga e outros critérios avaliados neste estudo (demográfico, antropométrico, história de poliomielite, qualidade de vida e gasto energético).
O grupo de pacientes com PPS apresentou índice de qualidade de vida significativamente pior nos domínios físico, psicológico e ambiental, quando comparado aos demais grupos (CG e PS). Não houve diferença no domínio das redes sociais ( Tabela 2 ).
Tabela 2 Classificação dos escores para cada grupo de domínios do WHOQOL-Bref.
Domínio WHOQOL
CG (n = 36)
PS (n = 28)
PPS (n = 52)
P-valor
Fisica
75,9 ± 14,3
67,9 ± 17,1
42,4 ± 16,5
<0,0001 a
Psicológico
73,6 ± 13,4
73,5 ± 15,6
59,3 ± 16,9
<0,0001 b
Relações sociais
74,6 ± 20,5
72,7 ± 21,1
67,8 ± 18,5
(Ns) 0,128
Meio Ambiente
66,1 ± 17,5
62,7 ± 17,0
56,7 ± 15,7
= 0,0312 c
Teste ANOVA (análise de variância de uma via) com o pós-teste de Tukey, diferença significativa: um grupo PPS vs PS e CG; Grupo B PPS vs PS e GC; C grupo PPS vs CG. CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; WHOQOL: Escala de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde.
O grupo PPS apresentou aumento no gasto energético em suas atividades ocupacionais (profissional), comparado ao grupo PS no período de 21 a 30 anos de idade.
* P <0,05 vs PS (Teste Kruskal-Wallis). CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; OPA: atividade física ocupacional.
Comparação longitudinal do período de 21 a 30 anos de idade entre CG, PS e PPS do escore OPA.
A atividade física ocupacional entre 21 e 30 anos mostrou correlações com outras variáveis ​​da pesquisa ( Tabela 3 ).
Tabela 3 Coeficientes de correlação de Spearman e valores de P entre a atividade física ocupacional (21 a 30 anos) e as variáveis ​​anos de estudo, poliomielite aguda e idade de início de novos sintomas.
Variáveis
Os coeficientes de correlação (r)
P-valor
Educação (anos de estudo)
- 0,3720
0,0066
Poliomielite aguda
- 0,2803
0,0390
Idade no início do PPS
- 0,2796
<0,0447
A Figura 3 mostra que o grupo PPS, durante a avaliação da atividade física realizada nos últimos 12 meses, apresentou menor gasto energético em todas as pontuações do Questionário Baecke de Atividade Física Habitual, em relação ao PS e CG.
CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; OPA: atividade física ocupacional; PEL: exercícios físicos em lazer; LLA: atividades físicas de lazer e locomoção; TS: pontuação total.
Figura 3 Comparação longitudinal do período dos últimos 12 meses entre CG, PS e PPS de OPA, PEL, LLA e Total Score (TS). Todas as análises foram realizadas usando o Kruskal-Wallis: * p <0,05 vs PS e GC.
DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi descrever o perfil do gasto energético utilizando o Questionário Baecke de Atividade Física Habitual, mostrando a relação entre atividade física habitual e o desenvolvimento de sintomas de PPS. Neste estudo, foi importante avaliar se a atividade física pode ser um fator predisponente para o desenvolvimento de PPS, ou piora de seus sintomas.
A fadiga foi encontrada com alta frequência afetando, em média, dois terços dos pacientes com PPS. Esse achado pode ser visto tanto em estudos nos Estados Unidos como em outros estudos brasileiros. O estudo de Conde et al. demonstraram que a fadiga em pacientes com PPS não está relacionada com a hora do dia (manhã ou à noite), mas com o tipo de atividade. Em nossa pesquisa, analisamos a história da atividade física, das profissões e dos esportes praticados e não encontramos relação com a variável fadiga. Isso pode ser explicado por duas hipóteses: a fadiga é um sintoma independente que merece manejo específico; Ou fadiga não é um bom marcador de PPS.
Os pacientes com PPS apresentaram baixa qualidade de vida em relação aos grupos PS e CG, principalmente nos domínios físico, psicológico e ambiental. A apresentação de novos sintomas por si só, é susceptível de levar a uma qualidade de vida prejudicada em comparação com os outros grupos.
Os três grupos (CG, PS e PPS) apresentaram um aumento gradual e significativo nos escores de atividade física ocupacional e escores totais nos três períodos analisados. Mas houve uma diminuição gradual e significativa ao longo dos anos nos escores de atividade física no lazer e atividade física no lazer e na locomoção, provavelmente devido a mudanças no estilo de vida, resultando em inatividade nas práticas esportivas de lazer.
Entretanto, no período clínico estudado (12 meses prévios), o agravamento clínico nos pacientes com PPS pode explicar por que eles não poderiam realizar atividades de lazer, ao contrário de falta de oportunidade, falta de desejo ou prazer ligado a outro fator. Tanto o grupo PS quanto o PPS tiveram história de seqüelas e incapacidades físicas, mas somente o grupo PPS mostrou uma diminuição significativa em todas as suas atividades físicas habituais (atividade física ocupacional, exercício físico e atividades de lazer e locomoção e escores totais) no período anterior 12 meses.
Por outro lado, os pacientes com PPS tiveram maior gasto energético na atividade física ocupacional, no período de 21 a 30 anos, o único fator que corrobora a hipótese de "uso excessivo".
Considerando que o PPS é uma doença com unidades motoras gigantes, o aumento do gasto energético em qualquer domínio do questionário de Baecke pode indicar uma sobrecarga em unidades motoras.
O grupo PPS apresentou correlação negativa entre atividade física ocupacional, de 21 a 30 anos de idade, e início de novos sintomas, indicando que a atividade física ocupacional (profissão) exercida nesse período é o fator que provoca a sobrecarga física Aparecimento de novos sintomas.
O grupo PPS também mostrou correlação negativa entre a atividade física ocupacional, de 21 a 30 anos, e o nível educacional, indicando que aqueles que realizaram mais atividade física em sua profissão nesse período tiveram baixo nível de escolaridade. Este achado indica que um alto nível de educação pode possivelmente ser um fator de proteção para PPS.
O grupo PPS mostrou uma correlação negativa entre a atividade física ocupacional, de 21 a 30 anos de idade e a idade da poliomielite aguda, indicando que os que tiveram poliomielite mais tarde tiveram menos gasto de energia em suas atividades ocupacionais no período. Portanto, a idade da infecção aguda pelo poliovírus afetou negativamente o desempenho do trabalho dos pacientes, corroborando a afirmação sobre a gravidade das sequelas e as perdas físicas desses pacientes com PPS.
Como este estudo foi realizado em um centro de pesquisa especializado em doenças neuromusculares, a busca pelos pacientes foi passiva e espontânea. Os pacientes avaliados foram aqueles com mais sintomas ou que tiveram alguma necessidade social e / ou legal. No entanto, mesmo utilizando um questionário como ferramenta de pesquisa, que permitiu a análise retrospectiva do gasto energético, os pacientes em questão não tiveram dificuldade em compreender e preencher o questionário, o que correspondeu a um período de estudo mais longo (mais de 15 anos de Estudo: PPS = 48%, PS = 28,6% e CG = 33,3).
O estudo de um perfil de gasto energético em indivíduos com antecedentes de poliomielite paralítica prévia mostrou que o PPS é uma condição nosológica com características próprias e o uso excessivo de unidades motoras durante a vida é um dos fatores causais; Está diretamente ligado ao gasto histórico de energia durante a vida; Os pacientes com PPS tiveram maior gasto energético, especialmente na atividade física ocupacional, entre 21 e 30 anos, sugerindo que esta década é crítica para o desenvolvimento desta condição; Atualmente, os pacientes com PPS têm status diferente em relação aos grupos PS e CG, com maior frequência de fadiga, escores mais baixos nas atividades físicas usuais e consequentemente pior qualidade de vida; O excesso de peso pode ser um fator agravante para o desenvolvimento ou intensificação dessas limitações.
Considerando que o PPS pode ter uma relação com maior atividade física em um dado período de vida e / ou aumento do metabolismo basal, pesquisas futuras são necessárias para comparar a Escala de Gravidade da Fadiga com as medidas metabólicas basais. 


Universidade Federal de São Paulo, Setor de Investigação nas Doenças Neuromusculares, São Paulo SP, Brasil; Centro Universitário Augusto Motta, Mestrado em Ciências da Reabilitação, Bonsucesso RJ, Brasil; Universidade Severino Sombra, Mestrado em Ciências Aplicadas a Saúde, Vassouras RJ, Brasil; Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Anestesiologia, São Paulo SP, Brasil. 

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-282X2017000300147&script=sci_arttext



05 agosto 2016

SÍNDROME PÓS POLIOMIELITE: Silêncio de 36 anos a quem interessa?

SÍNDROME PÓS POLIOMIELITE: Silêncio de 36 anos a quem interessa?: Poliomielite Irresponsável, manipulação dos Dados Organização Mundial da Saúde. Resultado, milhares de brasileiros acometidos pela Sínd...

Silêncio de 36 anos a quem interessa?



Poliomielite Irresponsável, manipulação dos Dados Organização Mundial da Saúde. Resultado, milhares de brasileiros acometidos pela Síndrome Pós Poliomielite (SPP) ou Sequela Pós-Poliomielite. 

Denunciada manipulação de dados a respeito da poliomielite no Brasil, entre 1969 a 1973. Negligência que resultou em 63% de vitimas infectadas com o vírus da pólio. Para aqueles não familiarizados com o assunto, devo esclarecer que a vacina contra a poliomielite (também chamada de pólio ou paralisia infantil termo deriva do grego poliós, que significa "cinza", myelós "medula") estava operacional em território Brasileiro desde 1962 para a rede pública de saúde.
Esta noticia foi publicada em 06 de março de 1980, pelo Jornal Folha de São Paulo: “O governo Médici teria manipulado” dados referentes às condições de saúde no Brasil. A declaração, feita na época pelo Médico, Cientista e Pesquisador ALBERT BRUCE SABIN em entrevista concedida na presença dos Ministros Valdir Arcoverde e Jair Soares, respectivamente da Saúde e da Previdência Social, refere-se a RELATÓRIOS encaminhados à Organização Mundial da Saúde e que teriam apresentando estatísticas duvidosas”.
Vale ressaltar a inexistências de Dados Estatísticos referentes às Pessoas que foram acometidos pela poliomielite na infância, não sabemos até hoje com exatidão quantas crianças desenvolveram a doença em território nacional principalmente entre 1969 e 1973.
“Para uma população já anestesiada por tantas notícias sobre manipulação de índices oficiais, a declaração talvez não tenha tido a repercussão merecida. A gravidade da informação do Professor ALBERT SABIN, contudo, ultrapassa os limites do rotineiro. Após afirmar que a redução dos índices, no período de 1969 a 1973, anunciada pelo governo brasileiro, era incorreta, o cientista ressaltou o que chama de POLIOMIELITE IRRESPONSÁVEL. Ou seja, a manipulação dos dados não teve apenas por consequência, se é que teve, a modificação da imagem do Brasil perante os órgãos internacionais, que acreditaram, então, no progresso de nossas condições de saúde. Muito mais do que isto, os falsos Índices impediram, naquela época, uma campanha séria de combate à POLIOMIELITE. Como resultado temos crianças nascidas entre 1969 a 1973 portando sequelas físicas que poderiam ter sido evitadas, fosse outro o comportamento do governo. Ninguém desconhece que, em política,  as versões são às vezes mais importantes do que os fatos e que a manipulação de dados é um instrumento de grande força na luta pelo Poder. Faz parte da vida política esta capacidade de construir imagens favoráveis, escondendo alguns aspectos, ressaltando outros. Mas superestimar esta capacidade, tolerando a negação ou a distorção mentirosa dos fatos, é pervertê-la. Assim, quando um grupo político adere à falsidade organizada, escondendo dados importantes, proclamando milagres que não existem, então a linha divisória entre a atividade política e a sua perversão estará sendo transposta”.
“Mas chama-se  também ao banco dos réus o Administrador Irresponsável, cuja conduta, desgraçadamente, foi tão leviana quanto lesiva aos interesses do Pais e seus Cidadãos. 
O resultado deste silencia ecoa em milhares de Brasileiros Acometidos pela Poliomielite na Infância, que suplantaram uma dolorosa reabilitação em decorrência de sequelas deixadas pela doença, e por um preconceito social silencioso, onde lhes era colocado que sem dor não haveria recuperação.
Em decorrência da Negligencia do Passado o resulto no presente chama–se Síndrome Pós-Poliomielite (SPP) ou Sequela Pós-Poliomielite é uma doença do neurônio motor de caráter degenerativo e progressivo. Embora não se conheça totalmente a etiologia, a causa mais aceita é a degeneração das unidades motoras remanescentes, algumas gigantes (grande número de fibras musculares inervadas pelo mesmo neurônio motor), formadas após a fase aguda da poliomielite. A SPP é definida por um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem, geralmente, após 30 a 50 anos, no mínimo 15 anos após a infecção aguda da poliomielite. Caracterizada, principalmente, por três sintomas principais: nova fraqueza muscular, fadiga e dor. A nova fraqueza muscular, afeta geralmente os músculos previamente mais comprometidos, mas também pode afetar a musculatura aparentemente normal, estando acompanhada ou não de fadiga e dor muscular e/ou articular.
Outros sintomas que podem estar presentes são: nova atrofia muscular; disfonia; disfagia; insuficiência respiratória; transtorno urinário e fecal, transtornos do sono associado ou não de cefaleia matinal; aumento de peso corporal; intolerância ao frio; ansiedade; depressão; problemas de memória.
Aqui fazemos um alerta, a Sombra da Poliomielite vai continuar por décadas, tendo um pedágio significativo sobre a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas.  A situação atual e as necessidades futuras são ainda desconhecidas. Suas vidas serão limitadas e não por sua deficiência, mas nas ramificações desta deficiência, o estigma, a marginalização social e barreiras para recursos, tais como assistência médica, educação, acessibilidade e assistência social, que irá resultar para muitos em pobreza, falta de escolha e a negação dos direitos humanos fundamentais, para maximizar a saúde de forma mais eficaz aos Sobreviventes da Pólio – Síndrome Pós Pólio e bem-estar, promovendo uma maior participação e inclusão social.
A erradicação da Poliomielite e da Síndrome Pós-Poliomielite é um campo de provas, um teste. Ele vai revelar o que os seres humanos são capazes de fazer, e sugerir como ambicioso que pode ser o nosso futuro. No entanto, argumenta-se que esta afirmação é igualmente relevante para aqueles enfrentando as consequências Incapacitantes da Poliomielite – Síndrome Pós Poliomielite. A batalha contra a Poliomielite - Síndrome Pós Poliomielite não será vencida até que a comunidade global possa garantir aqueles que vivem com as consequências Incapacitantes da Poliomielite – Síndrome Pós Poliomielite que suas necessidades serão atendidas e os recursos serão disponibilizados para que possam funcionar plenamente e livremente nas sociedades em que vivem - agora e nas décadas que virão.
Uma sociedade que negligência seu passado, ameaça seu futuro.  
Nilson Roberto dos Santos – Paciente diagnosticado com Síndrome Pós Poliomielite