24 junho 2017
28 março 2017
Brasileiro com síndrome pós-pólio agradece governo japonês após ganhar cadeira de rodas elétrica.
OSNY ARASHIRO /ALTERNATIVA Online
Hamamatsu - Após passar por uma bateria de exames médicos e
comprovar que a sua poliomielite, adquirida aos seis meses de vida,
evoluiu na vida adulta para a síndrome pós-pólio (SPP), o brasileiro
Antonio (nome fictício) recebeu do governo da província de Aichi uma
cadeira de rodas elétrica, sem nenhum custo.
Síndrome
pós-pólio é a consequência da vítima da poliomielite (paralisia
infantil) evoluída para um quadro mais grave, anos depois de adqurida.
Por pensar que a pólio estacionou, justamente a SSP é de difícil
diagnóstico e foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde somente
em 2009, que a incluiu no CID – Código Internacional de Doenças.
Por
desinformação, muitos médicos diagnosticavam erroneamente. Foi o caso
do Antonio. A partir de 2014, ele começou a sentir fortes dores no braço
direito e formigamento. A princípio, o médico dizia que era devido ao
uso da muleta. Acometido da pólio na perna direita, como poderiam
imaginar que iria evoluir para o braço direito, quatro décadas depois?
Porém,
ciente da existência da SPP, Antonio começou a se informar pois ele
também pouco conhecia sobre esse mal. Lendo muito sobre as informações
do neurologista Acary Souza Bulle Oliveira, de São Paulo, Antonio
decidiu também consultar um neurologista em Aichi, ao inteirar-se de
alguns dos principais sintomas descritos na literatura médica, sobre a
SPP:
- Fraqueza muscular nos músculos afetados pela poliomielite ou em partes não atingidas previamente;
- Dores nas articulações e músculos;
- Fadiga;
- Intolerância ao frio;
- Dificuldades respiratórias;
- Problemas para dormir.
No
dia 30 de junho de 2014, Antonio foi pela primeira vez consultar um
neurologista para verificar a possibilidade de estar com SPP. Foram
muitas consultas.
Um aparelho interligou
vários fios no braço com um computador para acusar o nível de ondas
magnéticas e o grau de sensibilidade dos nervos. Fez exame de sangue e
extraiu líquido da coluna cervical.
Mediu
também a força do braço e da mão com um dinamômetro e o resultado foi de
28 quilograma-força no braço esquerdo e 5 quilograma-força no direito.
"Não consigo nem usar uma tesoura com a mão direita", afirma Antonio.
Somente
em agosto de 2016 saiu o laudo médico, confirmando que Antonio era
portador de SPP (em japonês, Posuto Porio Shokogun). Ele recebeu nova
carteira de deficiente físico, passando do grau 3 para 2.
Prestes
a completar 46 anos de idade, praticamente levou os mesmos 46 anos para
diagnosticar ser portador da Síndorme Pós-Polio, uma vez que contraiu a
poliomielite com seis meses de vida.
Em seu
retorno ao hospital para consultas de rotina, foi aconselhado pelo
médico a usar uma cadeira de rodas, para economizar energia ao se
movimentar, pois a SPP não estaciona e pode evoluir mais.
Na
maneira antiga da orientação médica, o ideal para o portador da
paralisia infantil era fortalecer os músculos praticando atividades
físicas e fisioterapia. Entretanto, com a descoberta da SPP, as
atividades físicas, pelo contrário, devem ser reduzidas ao máximo, para
economizar energia muscular do corpo.
Esse foi o motivo explicado pelo médico para Antonio utilizar uma cadeira de rodas, embora ele não seja uma pessoa inválida.
A
princípio, Antonio recusou a cadeira de rodas. Até porque, pensava que
teria de comprar de bolso próprio. O médico lhe explicou que ele tinha
direito a receber do governo da província uma cadeira de rodas sem
custos nenhum. Mesmo assim, foram necessários seis meses para mudar de
ideia, após vários conselhos médicos. Quando Antonio concordou, seu
médico o transferiu para o setor de fisioterapia tirar as medidas para
confecionar uma cadeira de rodas.
QUESTÕES BUROCRÁTICAS
Com
o laudo médico e a solicitação da cadeira de rodas, Antonio deu entrada
à requisição no Fukushika – a Divisão de Bem Estar Social, setor de
Deficientes Físicos.
Com a administração
municipal não teve problema nenhum. Difícil foi convencer os
encarregados do governo da província. Chamado para entrevista, Antonio
teve que explicar as razões para utilizar uma cadeira de rodas elétrica e
não manual.
Ele explicou que justamente para
poupar energia muscular, deveria usar cadeira de rodas elétrica. Se
fosse manual, seu esforço físico seria bem maior, teria de conduzí-la
com as próprias mãos e o seu braço direito não tinha forças.
Antonio
percebeu que eles queriam "empurrar-lhe" uma cadeira manual por ser
mais barata. Mediante tantas barreiras burocráticas, perdeu a paciência e
mandou os encarregados da província estudarem mais sobre doenças:
"Vocês que lidam com portadores de deficiências físicas, desconhecem os
problemas da síndrome pós-pólio? Vocês precisam estudar mais!"
Os
médicos – neurologista e fisioterapeuta - também foram questionados
pelo órgão da província, para explicar quais as razões da necessidade de
uma cadeira de rodas elétrica e não manual. Vencidas essas burocracias,
concordaram em conceder o benefício.
A cadeira de rodas elétrica ficou pronta e no dia 1º de março ele foi retirá-la no hospital.
Apesar
das dificuldades em ser reconhecido como portador de SPP para receber
sua cadeira de rodas elétrica, Antonio faz questão de manifestar seu
agradecimento ao governo do Japão por esse benefício recebido.
Ele
prefere não revelar o preço de uma cadeira de rodas elétrica, mas
afirma ser cara. Também foi preciso comprovar baixa renda mensal e
esclarece que não é somente o portador de SPP que tem direito a receber
esse benefício. Cada caso é um caso e o interessado deve esclarecer suas
dúvidas no setor de Deficiente Físico, no Fukushika da prefeitura
local.
Avaliação do gasto energético em indivíduos com síndrome pós-poliomielite - Avaliação do consumo energético dos indivíduos com síndrome pós-poliomielite
Roberto Dias Batista Pereira; Tatiana Mesquita e Silva; Abrahão Augusto Juviniano Quadros; Marco Orsini; Beny Schmidt; Helga Cristina Almeida Silva; Acary Souza Bulle Oliveira.
scielo.br
O objetivo deste estudo foi identificar o gasto
energético, retrospectivamente, em indivíduos com síndrome pós-poliomielite (PPS)
na população brasileira.
Métodos
Foi utilizado o questionário para avaliação da atividade
física habitual (AFH) nos pacientes com PPS, sequela de poliomielite (SP) e
grupo controle (GC). Participaram do estudo 116 indivíduos (PPS = 52, SP = 28,
GC = 36).
Resultados
Pacientes com PPS tendem a aumentar a AFH dos 10
aos 20 anos, comparados com os grupos SP e GC. No período dos 21 aos 30 anos,
houve aumento significativo da atividade física ocupacional do grupo PPS em
relação ao grupo SP e atividade física ocupacional (21-30 anos)
correlacionou-se com o aparecimento dos sintomas da PPS.
Conclusão
Pacientes com PPS apresenta maior gasto de energia
durante uma vida, especialmente na atividade física ocupacional nas idades
21-30 anos, sugerindo que esta é uma crítica para o desenvolvimento da PPS.
Palavras-Chave: síndrome pós-poliomielite; Poliomielite; Metabolismo
energético.
A síndrome pós-poliomielite (PPS) é um efeito
tardio da poliomielite, classificada como neuronopatia motora, uma vez que os
aspectos clínicos e histológicos estão intimamente relacionados à disfunção dos
neurônios motores inferiores. A frequência de PPS varia de 22% a 80% em
diferentes estudos internacionais. Um estudo brasileiro mostrou uma frequência
de 77,2% em pacientes classificados como PPS, sendo 62,8% mulheres e 37,2%
homens.
O PPS geralmente ocorre 30-50 anos após a infecção
aguda da poliomielite. É caracterizada por novos sintomas ou piora de sintomas
residuais anteriores, tais como: fraqueza nova, fadiga muscular, nova atrofia,
dor muscular, dor nas articulações e intolerância ao frio. Atualmente, é
reconhecida como uma entidade da doença definida pela Organização Mundial de
Saúde, e está representada no Código Internacional de Distúrbios (ICD10 / G14).
Diferentes hipóteses têm sido propostas para a
fisiopatologia do PPS, mas a mais aceita é a teoria do "overuse"
(sobrecarga ou overtraining), proposta por Charcot e defendida por outros.
A característica mais importante do PPS é o
desenvolvimento de uma nova fraqueza muscular. Esta nova fraqueza pode ocorrer
em músculos que já têm algum grau de fraqueza muscular ou músculos que foram
previamente comprometidos, e posteriormente reinervados. Esta nova fraqueza
inevitavelmente leva ao aumento do gasto energético para o desempenho da
atividade física de rotina.
Alguns fatores de risco, como idade, gênero,
severidade da paralisia, dor, intensidade do exercício muscular ou atividade
física, podem contribuir para o desenvolvimento de PPS. As relações possíveis
entre esses fatores e o metabolismo energético são de suma importância.
Diferentes métodos são utilizados para a avaliação
subjetiva da atividade física habitual; A maioria deles é representada por
questionários provenientes de estudos epidemiológicos. A avaliação da atividade
física por questionário é um método que é influenciado principalmente pela
capacidade das pessoas de se lembrarem.
O questionário de Baecke para a avaliação da
atividade física habitual é um instrumento de recall fácil de aplicar e
compreensível; É uma escala qualitativo-quantitativa e aborda aspectos como
atividade física ocupacional, exercício físico em lazer e atividades de lazer e
locomoção. Este instrumento tem sido utilizado em estudos epidemiológicos na
população brasileira.
O objetivo deste estudo foi identificar o gasto
energético, retrospectivamente, em indivíduos com PPS na população brasileira e
verificar se a atividade física pode ser um fator predisponente para o
desenvolvimento de PPS, ou piora dos sintomas do paciente.
MÉTODOS
Três grupos distintos de indivíduos foram
avaliados: seqüelas de poliomielite (PS), PPS, e um grupo controle (CG). A
população de interesse foi composta por pacientes com história de poliomielite
paralítica submetidos a monitoramento ambulatorial na Unidade de Transtornos
Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), no município de
São Paulo, Brasil, e indivíduos saudáveis (cuidadores de pacientes) , Entre
os anos 2007-2009.
Os critérios de inclusão foram pacientes do sexo
masculino e feminino com diagnóstico confirmado de pólio paralítico e PPS. Foram
excluídos pacientes com idade superior a 60 anos e a presença de qualquer
doença ou condição médica que pudesse levar à fraqueza muscular. Este estudo
foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFESP e todos os pacientes envolvidos no
estudo concordaram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Para avaliar a atividade física habitual, utilizamos
o questionário de Baecke, que foi traduzido e validado em português por
Florindo e Latorre.
O Baecke engloba três níveis de atividade física
caracterizados por atividade física ocupacional (questões 1-8), exercício
físico e atividades de lazer (perguntas 9-12), e atividades físicas de lazer e
locomoção (questões 13-16), que compreendem a Avaliação da atividade física
habitual. A pontuação total (TS) é a soma dos escores destes três níveis. As
fórmulas para calcular o questionário Baecke foram:
TS = OPA
+ PEL + LLA
Vq = valor
da pergunta
OPA =
atividade física ocupacional
PEL =
exercícios físicos em lazer
LLA =
atividades físicas de lazer e locomoção
TS =
pontuação total
O
questionário de Baecke foi aplicado apenas uma vez aos três grupos (PS, PPS e
CG), avaliando o histórico de atividade física ao longo da vida em períodos de
10-20 anos de idade, 21-30 anos de idade e nos últimos 12 meses, Excluindo as
atividades ocupacionais no período de 10-20 anos, resultando em nove pontuações
finais dos respectivos períodos.
Metodologia
de aplicação dos questionários:
Para a classificação do gasto energético da
atividade física ocupacional e os tipos de exercício que não estavam no perfil
de padronização, utilizamos os estudos de Ainsworth et al. e McArdle et al. como
referência. O primeiro estudo foi um esquema de codificação para a
classificação do custo energético das atividades físicas humanas, e este propôs
níveis de classificação do gasto energético humano da atividade física (baseado
em um múltiplo da taxa metabólica em repouso).
Para a avaliação da fadiga, utilizamos a Escala de
Gravidade da Fadiga. É composto de nove itens. Os indivíduos registram suas
respostas de 1-7 (1 significa que discordam completamente e 7 indica que
concordam inteiramente com a indicação). Esta escala avalia a queixa de fadiga
nas duas semanas anteriores.
Também utilizamos a ferramenta abreviada de
avaliação da qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde. Este
questionário tem 26 perguntas, as duas primeiras são gerais e as outras 24
divididas em quatro domínios: físico (dom 1), psicológico (dom 2), relações
sociais (dom 3), ambiente (dom 4) e global. Passos para verificar e limpar
dados e computar facetas e resultados de domínio foram:
Recode q3
q4 q26 (1 = 5) (2 = 4) (3 = 3) (4 = 2) (5 = 1).
Calcula
dom 1 = (média6 (q3, q4, q10, q15, q16, q17, q18)) * 4.
Calcula
dom 2 = (média 5 (q5, q6, q7, q11, q19, q26)) * 4
Calcula
dom 3 = (média 2 (q20, q21, q22)) * 4
Calcula
dom 4 = (média 6 (q8, q9, q12, q13, q14, q23, q24, q25)) * 4
Calcular
total = (média 2 (q1, q2)) * 4
As análises foram realizadas pelo software PRISM 3,
comparando sua porcentagem por categoria, cálculo da média, mediana e desvio
padrão.
Variáveis contínuas com distribuição normal foram
testadas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov.
A análise de variância (ANOVA) foi utilizada para
comparar os grupos com dados paramétricos. Quando foram encontradas diferenças
estatisticamente significantes, a análise foi complementada pelo teste de
Tukey.
A análise de variância (Kruskall-Wallis) foi
utilizada para comparar os grupos quando apresentados com dados
não-paramétricos. Quando foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas, a análise foi complementada pelo teste de Dunn.
A avaliação da correlação linear foi feita
utilizando o coeficiente de correlação de Spearman (r). Para todos os testes,
os resultados foram considerados estatisticamente significativos quando p
<0,05.
RESULTADOS
Cento e dezesseis indivíduos participaram do
estudo, 52 com PPS, 28 com PS e 36 no GC. A distribuição de gênero do CG foi de
19 mulheres (52,7%) e 17 homens (47,3%); No grupo PS: 17 mulheres (60,7%) e 11
homens (39,3%); E no grupo PPS havia 26 mulheres (50%) e 26 homens (50%).
A idade
média para cada grupo foi: 42,86 ± 9,22 anos para o CG; 43,31 ± 6,91 anos para
o grupo PS; E 43,83 ± 6,65 anos para o grupo PPS (variando de 30 a 59 anos). Medidas
de tendência central e dispersão para variáveis antropométricas, avaliadas
por grupo, são apresentadas na Tabela 1 .
Tabela 1 Valores médios e desvios-padrão das
características antropométricas dos grupos envolvidos no estudo.
Variável
|
CG (n = 36)
|
PS (n = 28)
|
PPS (n = 52)
|
Altura
(cm)
|
170,5 ± 10,9 *
|
161,2 ± 8,0
|
163,4 ± 10,3
|
Peso
(Kg)
|
74,6 ± 17,6
|
62,7 ± 15,8 **
|
68,7 ± 15,4
|
IMC (Kg
/ m2)
|
25,5 ± 4,1
|
23,8 ± 4,9
|
25,5 ± 4,1
|
CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de
poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; IMC: índice de massa corporal.
A menor idade na qual a poliomielite aguda ocorreu
foi de 23 dias e a maior foi de oito anos; A média foi de 19,71 meses (um ano e
sete meses), com um desvio padrão de 16,8 meses (1,4 anos) e a mediana de 18
meses (nove e 24 meses). A idade média de início dos novos sintomas de PPS foi
de 37,7 ± 6,3 anos (24-53 anos).
Na Escala de Gravidade da Fadiga, houve diferença
significativa (p <0,0001) entre o CG (17,56 ± 11,4), o PS (27,29 ± 20,5) e o
grupo PPS (51,48 ± 14,21). O grupo PPS apresentou maiores escores de fadiga,
com 92,3% dos pacientes sendo classificados com fadiga. Por outro lado, nos
grupos PS e PPS, não houve relação entre fadiga e outros critérios avaliados
neste estudo (demográfico, antropométrico, história de poliomielite, qualidade
de vida e gasto energético).
O grupo de pacientes com PPS apresentou índice de
qualidade de vida significativamente pior nos domínios físico, psicológico e
ambiental, quando comparado aos demais grupos (CG e PS). Não houve diferença no
domínio das redes sociais ( Tabela 2 ).
Tabela 2 Classificação
dos escores para cada grupo de domínios do WHOQOL-Bref.
Domínio
WHOQOL
|
CG (n = 36)
|
PS (n = 28)
|
PPS (n = 52)
|
P-valor
|
Fisica
|
75,9 ± 14,3
|
67,9 ± 17,1
|
42,4 ± 16,5
|
<0,0001 a
|
Psicológico
|
73,6 ± 13,4
|
73,5 ± 15,6
|
59,3 ± 16,9
|
<0,0001 b
|
Relações
sociais
|
74,6 ± 20,5
|
72,7 ± 21,1
|
67,8 ± 18,5
|
(Ns) 0,128
|
Meio
Ambiente
|
66,1 ± 17,5
|
62,7 ± 17,0
|
56,7 ± 15,7
|
= 0,0312 c
|
Teste ANOVA (análise de variância de uma
via) com o pós-teste de Tukey, diferença significativa: um grupo PPS
vs PS e CG; Grupo B PPS vs PS e GC; C grupo PPS vs CG. CG:
grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome
pós-poliomielite; WHOQOL: Escala de Qualidade de Vida da Organização Mundial de
Saúde.
O grupo PPS apresentou aumento no gasto energético
em suas atividades ocupacionais (profissional), comparado ao grupo PS no
período de 21 a 30 anos de idade.
* P <0,05 vs PS (Teste Kruskal-Wallis). CG:
grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome
pós-poliomielite; OPA: atividade física ocupacional.
Comparação longitudinal do período de 21 a 30 anos
de idade entre CG, PS e PPS do escore OPA.
A atividade física ocupacional entre 21 e 30 anos
mostrou correlações com outras variáveis da pesquisa ( Tabela 3 ).
Tabela 3 Coeficientes de correlação de Spearman e
valores de P entre a atividade física ocupacional (21 a 30 anos) e as variáveis
anos de estudo, poliomielite aguda e idade de início de novos sintomas.
Variáveis
|
Os coeficientes de correlação (r)
|
P-valor
|
Educação
(anos de estudo)
|
- 0,3720
|
0,0066
|
Poliomielite
aguda
|
- 0,2803
|
0,0390
|
Idade
no início do PPS
|
- 0,2796
|
<0,0447
|
A Figura 3 mostra que o grupo PPS, durante a
avaliação da atividade física realizada nos últimos 12 meses, apresentou menor
gasto energético em todas as pontuações do Questionário Baecke de Atividade
Física Habitual, em relação ao PS e CG.
CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de
poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; OPA: atividade física
ocupacional; PEL: exercícios físicos em lazer; LLA: atividades físicas de lazer
e locomoção; TS: pontuação total.
Figura 3 Comparação longitudinal do período dos
últimos 12 meses entre CG, PS e PPS de OPA, PEL, LLA e Total Score (TS). Todas
as análises foram realizadas usando o Kruskal-Wallis: * p <0,05 vs PS e GC.
DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi descrever o perfil do
gasto energético utilizando o Questionário Baecke de Atividade Física Habitual,
mostrando a relação entre atividade física habitual e o desenvolvimento de
sintomas de PPS. Neste estudo, foi importante avaliar se a atividade física
pode ser um fator predisponente para o desenvolvimento de PPS, ou piora de seus
sintomas.
A fadiga foi encontrada com alta frequência
afetando, em média, dois terços dos pacientes com PPS. Esse achado pode ser
visto tanto em estudos nos Estados Unidos como em outros estudos brasileiros. O
estudo de Conde et al. demonstraram que a fadiga em pacientes com PPS não está
relacionada com a hora do dia (manhã ou à noite), mas com o tipo de atividade. Em
nossa pesquisa, analisamos a história da atividade física, das profissões e dos
esportes praticados e não encontramos relação com a variável fadiga. Isso pode
ser explicado por duas hipóteses: a fadiga é um sintoma independente que merece
manejo específico; Ou fadiga não é um bom marcador de PPS.
Os pacientes com PPS apresentaram baixa qualidade
de vida em relação aos grupos PS e CG, principalmente nos domínios físico,
psicológico e ambiental. A apresentação de novos sintomas por si só, é
susceptível de levar a uma qualidade de vida prejudicada em comparação com os
outros grupos.
Os três grupos (CG, PS e PPS) apresentaram um
aumento gradual e significativo nos escores de atividade física ocupacional e
escores totais nos três períodos analisados. Mas houve uma diminuição gradual e
significativa ao longo dos anos nos escores de atividade física no lazer e
atividade física no lazer e na locomoção, provavelmente devido a mudanças no
estilo de vida, resultando em inatividade nas práticas esportivas de lazer.
Entretanto, no período clínico estudado (12 meses
prévios), o agravamento clínico nos pacientes com PPS pode explicar por que
eles não poderiam realizar atividades de lazer, ao contrário de falta de
oportunidade, falta de desejo ou prazer ligado a outro fator. Tanto o grupo PS
quanto o PPS tiveram história de seqüelas e incapacidades físicas, mas somente
o grupo PPS mostrou uma diminuição significativa em todas as suas atividades
físicas habituais (atividade física ocupacional, exercício físico e atividades
de lazer e locomoção e escores totais) no período anterior 12 meses.
Por outro lado, os pacientes com PPS tiveram maior
gasto energético na atividade física ocupacional, no período de 21 a 30 anos, o
único fator que corrobora a hipótese de "uso excessivo".
Considerando que o PPS é uma doença com unidades
motoras gigantes, o aumento do gasto energético em qualquer domínio do
questionário de Baecke pode indicar uma sobrecarga em unidades motoras.
O grupo PPS apresentou correlação negativa entre
atividade física ocupacional, de 21 a 30 anos de idade, e início de novos
sintomas, indicando que a atividade física ocupacional (profissão) exercida
nesse período é o fator que provoca a sobrecarga física Aparecimento de novos
sintomas.
O grupo
PPS também mostrou correlação negativa entre a atividade física ocupacional, de
21 a 30 anos, e o nível educacional, indicando que aqueles que realizaram mais
atividade física em sua profissão nesse período tiveram baixo nível de
escolaridade. Este achado indica que um alto nível de educação pode
possivelmente ser um fator de proteção para PPS.
O grupo PPS mostrou uma correlação negativa entre a
atividade física ocupacional, de 21 a 30 anos de idade e a idade da
poliomielite aguda, indicando que os que tiveram poliomielite mais tarde
tiveram menos gasto de energia em suas atividades ocupacionais no período. Portanto,
a idade da infecção aguda pelo poliovírus afetou negativamente o desempenho do
trabalho dos pacientes, corroborando a afirmação sobre a gravidade das sequelas
e as perdas físicas desses pacientes com PPS.
Como este estudo foi realizado em um centro de
pesquisa especializado em doenças neuromusculares, a busca pelos pacientes foi
passiva e espontânea. Os pacientes avaliados foram aqueles com mais sintomas ou
que tiveram alguma necessidade social e / ou legal. No entanto, mesmo
utilizando um questionário como ferramenta de pesquisa, que permitiu a análise
retrospectiva do gasto energético, os pacientes em questão não tiveram
dificuldade em compreender e preencher o questionário, o que correspondeu a um
período de estudo mais longo (mais de 15 anos de Estudo: PPS = 48%, PS = 28,6%
e CG = 33,3).
O estudo de um perfil de gasto energético em
indivíduos com antecedentes de poliomielite paralítica prévia mostrou que o PPS
é uma condição nosológica com características próprias e o uso excessivo de
unidades motoras durante a vida é um dos fatores causais; Está diretamente
ligado ao gasto histórico de energia durante a vida; Os pacientes com PPS
tiveram maior gasto energético, especialmente na atividade física ocupacional,
entre 21 e 30 anos, sugerindo que esta década é crítica para o desenvolvimento
desta condição; Atualmente, os pacientes com PPS têm status diferente em
relação aos grupos PS e CG, com maior frequência de fadiga, escores mais baixos
nas atividades físicas usuais e consequentemente pior qualidade de vida; O
excesso de peso pode ser um fator agravante para o desenvolvimento ou
intensificação dessas limitações.
Considerando que o PPS pode ter uma relação com
maior atividade física em um dado período de vida e / ou aumento do metabolismo
basal, pesquisas futuras são necessárias para comparar a Escala de Gravidade da
Fadiga com as medidas metabólicas basais.
Universidade Federal de São Paulo, Setor de Investigação nas Doenças Neuromusculares, São Paulo SP, Brasil; Centro Universitário Augusto Motta, Mestrado em Ciências da Reabilitação, Bonsucesso RJ, Brasil; Universidade Severino Sombra, Mestrado em Ciências Aplicadas a Saúde, Vassouras RJ, Brasil; Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Anestesiologia, São Paulo SP, Brasil.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-282X2017000300147&script=sci_arttext
05 agosto 2016
SÍNDROME PÓS POLIOMIELITE: Silêncio de 36 anos a quem interessa?
SÍNDROME PÓS POLIOMIELITE: Silêncio de 36 anos a quem interessa?: Poliomielite Irresponsável, manipulação dos Dados Organização Mundial da Saúde. Resultado, milhares de brasileiros acometidos pela Sínd...
Silêncio de 36 anos a quem interessa?
Poliomielite Irresponsável, manipulação dos Dados Organização Mundial
da Saúde. Resultado, milhares de brasileiros acometidos pela Síndrome Pós
Poliomielite (SPP) ou Sequela Pós-Poliomielite.
Denunciada manipulação de dados a
respeito da poliomielite no Brasil, entre 1969 a 1973. Negligência que resultou
em 63% de vitimas infectadas com o vírus da pólio. Para aqueles não
familiarizados com o assunto, devo esclarecer que a vacina contra a
poliomielite (também chamada de pólio ou paralisia infantil termo deriva do
grego poliós, que significa "cinza", myelós "medula")
estava operacional em território Brasileiro desde 1962 para a rede pública de
saúde.
Esta noticia foi publicada em 06 de março de 1980, pelo
Jornal Folha de São Paulo: “O governo Médici teria manipulado” dados
referentes às condições de saúde no Brasil. A declaração, feita na época pelo Médico, Cientista e Pesquisador ALBERT
BRUCE SABIN em entrevista concedida na presença dos Ministros Valdir
Arcoverde e Jair Soares, respectivamente da Saúde e da Previdência Social,
refere-se a RELATÓRIOS encaminhados
à Organização Mundial da Saúde e que
teriam apresentando estatísticas duvidosas”.
Vale ressaltar a inexistências de
Dados Estatísticos referentes às Pessoas
que foram acometidos pela poliomielite na infância, não sabemos até hoje com exatidão
quantas crianças desenvolveram a doença em território nacional principalmente
entre 1969 e 1973.
“Para uma população já
anestesiada por tantas notícias sobre manipulação de índices oficiais, a
declaração talvez não tenha tido a repercussão merecida. A gravidade da
informação do Professor ALBERT SABIN, contudo, ultrapassa os limites do
rotineiro. Após afirmar que a redução dos índices, no período de 1969 a 1973,
anunciada pelo governo brasileiro, era incorreta, o cientista ressaltou o que
chama de POLIOMIELITE IRRESPONSÁVEL.
Ou seja, a manipulação dos dados não teve apenas por consequência, se é que teve,
a modificação da imagem do Brasil perante os órgãos internacionais, que
acreditaram, então, no progresso de nossas condições de saúde. Muito mais do
que isto, os falsos Índices impediram, naquela época, uma campanha séria de
combate à POLIOMIELITE. Como resultado temos crianças nascidas entre 1969 a
1973 portando sequelas físicas que poderiam ter sido evitadas, fosse outro o
comportamento do governo. Ninguém desconhece que, em política, as versões são às vezes mais importantes do
que os fatos e que a manipulação de dados é um instrumento de grande força na
luta pelo Poder. Faz parte da vida política esta capacidade de construir
imagens favoráveis, escondendo alguns aspectos, ressaltando outros. Mas
superestimar esta capacidade, tolerando a negação ou a distorção mentirosa dos
fatos, é pervertê-la. Assim, quando um grupo político adere à falsidade
organizada, escondendo dados importantes, proclamando milagres que não existem,
então a linha divisória entre a atividade política e a sua perversão estará sendo
transposta”.
“Mas chama-se também ao banco dos réus o Administrador Irresponsável, cuja conduta, desgraçadamente, foi tão leviana quanto lesiva aos
interesses do Pais e seus Cidadãos.
O resultado deste silencia ecoa
em milhares de Brasileiros Acometidos pela Poliomielite na Infância, que
suplantaram uma dolorosa reabilitação em decorrência de sequelas deixadas pela
doença, e por um preconceito social silencioso, onde lhes era colocado que sem
dor não haveria recuperação.
Em decorrência da Negligencia do
Passado o resulto no presente chama–se Síndrome Pós-Poliomielite (SPP) ou Sequela
Pós-Poliomielite é uma doença do neurônio motor de caráter degenerativo e
progressivo. Embora não se conheça totalmente a etiologia, a causa mais aceita
é a degeneração das unidades motoras remanescentes, algumas gigantes (grande
número de fibras musculares inervadas pelo mesmo neurônio motor), formadas após
a fase aguda da poliomielite. A SPP é definida por um conjunto de sinais e
sintomas que ocorrem, geralmente, após 30 a 50 anos, no mínimo 15 anos após a
infecção aguda da poliomielite. Caracterizada, principalmente, por três
sintomas principais: nova fraqueza muscular, fadiga e dor. A nova fraqueza
muscular, afeta geralmente os músculos previamente mais comprometidos, mas
também pode afetar a musculatura aparentemente normal, estando acompanhada ou
não de fadiga e dor muscular e/ou articular.
Outros sintomas que podem estar
presentes são: nova atrofia muscular; disfonia; disfagia; insuficiência
respiratória; transtorno urinário e fecal, transtornos do sono associado ou não
de cefaleia matinal; aumento de peso corporal; intolerância ao frio; ansiedade;
depressão; problemas de memória.
Aqui fazemos um alerta, a Sombra
da Poliomielite vai continuar por décadas, tendo um pedágio significativo sobre
a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas.
A situação atual e as necessidades futuras são ainda desconhecidas. Suas
vidas serão limitadas e não por sua deficiência, mas nas ramificações desta deficiência,
o estigma, a marginalização social e barreiras para recursos, tais como
assistência médica, educação, acessibilidade e assistência social, que irá
resultar para muitos em pobreza, falta de escolha e a negação dos direitos
humanos fundamentais, para maximizar a saúde de forma mais eficaz aos
Sobreviventes da Pólio – Síndrome Pós Pólio e bem-estar, promovendo uma maior
participação e inclusão social.
A erradicação da Poliomielite e da
Síndrome Pós-Poliomielite é um campo de provas, um teste. Ele vai revelar o que
os seres humanos são capazes de fazer, e sugerir como ambicioso que pode ser o
nosso futuro. No entanto, argumenta-se que esta afirmação é igualmente
relevante para aqueles enfrentando as consequências Incapacitantes da Poliomielite – Síndrome Pós Poliomielite. A batalha contra a Poliomielite - Síndrome
Pós Poliomielite não será vencida até que a comunidade global possa garantir
aqueles que vivem com as consequências Incapacitantes da Poliomielite – Síndrome Pós Poliomielite que suas necessidades serão atendidas e os recursos serão
disponibilizados para que possam funcionar plenamente e livremente nas
sociedades em que vivem - agora e nas décadas que virão.
Uma sociedade que negligência seu
passado, ameaça seu futuro.
Nilson Roberto dos Santos –
Paciente diagnosticado com Síndrome Pós Poliomielite
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