09 novembro 2017

OMS monitora potencial de uso do sistema de vigilância da poliomielite para detecção de surtos do vírus zika.

 Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde no Brasil.

O vírus zika desafiou os sistemas de vigilância de surtos em muitos países em risco e com poucos recursos. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está explorando todas as formas de detectar pessoas com zika e complicações neurológicas relacionadas de uma forma economicamente viável. Uma das vias pode ser utilizar a infraestrutura já existente para a vigilância da poliomielite.
Qual é a ligação entre o vírus zika e a poliomielite?
O vírus zika pode desencadear a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), uma condição rara em que o sistema imunológico de uma pessoa ataca os nervos periféricos e que, em casos graves, pode resultar em paralisia quase total. A paralisia flácida aguda é um indicador de SGB e poliomielite.
Como a Síndrome de Guillain-Barré foi associada à infecção pelo vírus zika, os aumentos na incidência de paralisia flácida aguda – rotineiramente relatados à Iniciativa Global de Erradicação da Pólio – podem fornecer um útil aviso prévio para surtos de zika em contextos com recursos limitados. Pesquisadores analisaram dados das Ilhas do Pacífico para testar essa hipótese.
Como o sistema de vigilância da poliomielite pode ajudar a detectar surtos de vírus zika?
O estudo dos pesquisadores, recentemente publicado no Boletim da OMS, descobriu que um aumento significativo nos casos relatados de paralisia flácida aguda está correlacionado com o surgimento do zika nas Ilhas Salomão. Os pesquisadores analisaram dados publicados e não publicados sobre os surtos ocorridos entre 2007 e 2015 em 21 ilhas do Pacífico. Analisaram também a base de dados da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio sobre o número anual e notificado de casos de paralisia flácida aguda em crianças com menos de 15 anos de idade. Contudo, a evidência não foi conclusiva para determinar que os dados de incidência de paralisia flácida aguda rotineiramente relatados em crianças eram úteis para detectar a emergência do vírus zika em contextos de recursos limitados.
O sistema de vigilância da poliomielite pode ajudar a estimar as tendências da Síndrome de Guillain-Barré?
A análise dos dados citados acima não encontrou evidência conclusiva de que os casos relatados de paralisia flácida aguda em crianças foram úteis para detectar um aumento significativo no número de pessoas com Síndrome de Guillain-Barré em países e áreas com populações menores. Apesar de pessoas de todas as idades poderem ter SGB, a condição é mais comum em adultos. Em contraste, a poliomielite afeta principalmente crianças menores de cinco anos e, portanto, o sistema de vigilância da poliomielite procura crianças menores de 15 anos. Os pesquisadores concluíram que os dados que incluem grupos de idade adulta podem fornecer melhores evidências para determinar se a vigilância desse tipo de paralisia oferece uma estratégia adequada para o alerta precoce para surtos de vírus zika em países de baixa renda.
Por que o estudo foi realizado?
Um dos papéis fundamentais da OMS é monitorar a situação de saúde e avaliar tendências. Fazemos isso reunindo provas sobre sistemas de vigilância convenientes, oportunos e econômicos para nossos Estados Membros. Consequentemente:
  • Em setembro de 2016, o Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional (2005) relacionado ao zika e suas consequências tinha incumbido à OMS o papel de fornecer orientações adequadas sobre a vigilância eficaz da doença do vírus zika em países com elevada vulnerabilidade e baixa capacidade;
  • A orientação provisória da OMS para a vigilância da infecção pelo vírus zika e da Síndrome de Guillain-Barré recomenda a revisão dos dados de vigilância da poliomielite para estimar as tendências da SGB.
Qual é o papel da rede de vigilância da poliomielite?
Como parte do esforço global para erradicação da pólio, uma rede extensa e ativa para a detecção de paralisia flácida aguda foi estabelecida. Investiga mais de 100 mil casos dessa condição a cada ano, em todo o mundo. De fato, nove de cada dez Estados Membros dispõem de sistemas de vigilância sólidos para detectar, comunicar e responder aos casos de poliomielite.
A rede de vigilância da poliomielite é utilizada para outras doenças?
A rede tem sido utilizada de forma eficaz em todo o mundo para detectar outras doenças além da poliomielite, como o sarampo, o ebola e a febre amarela. Na Nigéria, por exemplo, foi utilizada eficientemente para deter o ebola. Na Índia, o sistema é usado para rastrear e acabar com focos de sarampo.

30 setembro 2017

Documento publicado em 2004, OMS reconhece a Síndrome Pós Poliomielite.



Em um artigo publicado em 2004, a Organização Mundial de Saúde reconhece que “Pacientes com uma sequela de poliomielite paralítica”, particularmente aqueles que eram mais velhos no início da infecção por pólio e tiveram uma doença inicial grave, anos depois, desenvolveram complicações de dor muscular e aumento da fraqueza nos membros afetados:

Síndrome Pós Poliomielite Paralítico.

Essa fraqueza neuromuscular e fadiga que acompanham a dor intensa, muitos anos depois da pólio são denominados Síndrome Pós Poliomielite. Uma condição que essa agência considere classificada de acordo com o código B-91 da CID-10 (Classificação Internacional de Doenças). A OMS reconhece a gravidade da doença em outubro de 2008 acatou o agravo de inclusão do código G14 na CID 10, a qual foi adicionada em 2010 na Categoria de Atrofias Sistêmicas que Afetam Principalmente o Sistema Nervoso Central (G-10–G-14): G-14 - Síndrome Pós Poliomielite. Inclui: Síndrome Mielítica Pós Poliomielite. Exclui: Sequela de Poliomielite (B-91).
Por sua vez, em 2005, a Organização Pan Americana da Saúde afirmou que "a Síndrome Pós Poliomielite, também conhecida como sequelas de poliomielite e atrofia muscular pós-polielite, é um conjunto de distúrbios sofridos por muitas pessoas que sobrevivem à poliomielite e, muitas vezes, aparecem entre 25 e 35 anos após o início da doença". A incidência da síndrome é de 20 a 80%, considerando-se que as mulheres tendem a experimentar mais sintomas da Síndrome Pós Poliomielite que os homens.
Os pacientes começam a observar que seus músculos, incluindo alguns que acreditavam que não foram afetados pela poliomielite, enfraquecem progressivamente, experimenta fadiga, dificuldades respiratórias, problemas de deglutição (disfagia), insônia, apnéia, depressão, intolerância ao frio, fasciculação, dores nos músculos e articulações, baixa resistência ao estresse, dificuldades de concentração e memória.
Pesquisas, de acordo com relatórios médicos, uma das causas são os campos de imunologia, microbiologia e os mais aceitos são os danos e a deterioração dos neurônios motores. Normalmente, o grau da nova deficiência depende da reserva de energia que cada indivíduo teve no passado. Na maioria dos casos, a Síndrome Pós Poliomielite progride gradualmente, no entanto, em outros casos, podem ser abruptos, os especialistas o chamam:

“Síndrome Pós Poliomielite um problema de alta frequência de deficiência".

Durante o ataque inicial de poliomielite, algumas células nervosas, chamadas células dos cornos anteriores da medula espinhal, são danificadas ou destruídas. Essas células transmitem impulsos nervosos para os músculos, o que permite que sejam movidos conforme desejado. Sem esses impulsos, um músculo não pode funcionar. Felizmente, algumas células dos cornos anteriores sobrevivem à poliomielite e enviam novas conexões nervosas às células do músculo que foram desconectadas tentando assumir a função das células nervosas que foram destruídas.
Este processo permite ao paciente recuperar o controle de seus músculos e sua saúde. No entanto, após muitos anos, essas células nervosas sobrecarregadas podem começar a falhar e causar fraqueza muscular novamente.
Embora os pesquisadores não entendam completamente o processo, muitas pessoas acreditam que os sintomas da Síndrome Pós Poliomielite são em parte o resultado de um estresse demais nas células nervosas que sobrevivem à poliomielite.
Pesquisadores não encontraram provas convincentes de que a Síndrome Pós Poliomielite constituísse uma reativação de um vírus da pólio. Os poliovírus têm um genoma consistente em RNA e, ao contrário retrovírus, não possuem enzimas capazes de transformar esse genoma em DNA.  Portanto, eles não conseguiram estabelecer latência no sistema nervoso por qualquer dos mecanismos que foram identificados até agora em vírus capazes de fazê-lo. Além dos dados contra ela, pode-se argumentar com justificativa que é muito improvável que os poliovírus possam permanecer latentes no sistema nervoso após a poliomielite aguda para, décadas depois, despertar e ser uma causa da Síndrome Pós Poliomielite.   No entanto, como alguns fragmentos virais foram encontrados em alguns indivíduos com Síndrome Pós Poliomielite, os pesquisadores estão tentando determinar se a resposta imune do corpo a esses fragmentos ajuda a produzir esses sintomas em algumas pessoas.

Referências: Organização Mundial de Saúde.
Organização Pan-Americana da Saúde.

27 agosto 2017

Sumário Clínico sobre a Síndrome Pós Poliomielite




Pontos chaves:
1. A população com Síndrome Pós Poliomielite é idosa e diminui de tamanho. Além do mais há milhares de pacientes com Síndrome Pós Poliomielite que requerem cuidados de enfermagem especializada em virtude de sua idade avançada e sua perda de função.
2. Pacientes com Síndrome Pós Poliomielite (SPP) que apresentam cansaço podem ser considerados um subgrupo distinto daqueles com fadiga crônica.
3. A paralisia diafragmática na Síndrome Pós Poliomielite pode ser bilateral ou unilateral. Quando unilateral o prognóstico é bom, mas paralisia diafragmática bilateral frequentemente tem um pior prognóstico.
4. Cuidados de suporte, mudanças bem selecionadas do estilo de vida, estratégias de conservação de energia permanecem como o principal axioma da terapia.
5. Terapia pela imunoglobulina endovenosa (IVIG), traz alguma promessa na melhora da qualidade de vida, bem como na diminuição da dor corporal. A IVIG tem se mostrado também efetiva no controle dos marcadores inflamatórios, quando realizada em tempos maiores que 1 ano, em pacientes com Síndrome Pós Poliomielite.

Notas do histórico e nomenclatura
A poliomielite epidêmica nos Estados Unidos começou a declinar com a introdução da vacina inativada da poliomielite (Vacina Salk) em 1955 e com a vacina oral atenuada para pólio (Vacina Sabin, em 1961). Ainda que a poliomielite tenha basicamente sido eliminada, muitos pacientes do tempo da epidemia foram deixados com seqüelas graves e incapacidades. Estes pacientes procuraram uma superação tanto física como emocional através do trabalho pesado, procurando superar suas incapacidades. Agora, depois de 30 ou mais anos do ataque de poliomielite aguda, estes sobreviventes desenvolveram novos sintomas, referidos coletivamente como “efeitos tardios da poliomielite” ou por Síndrome Pós Poliomielite. Não somente eles tem novas incapacidades físicas para enfrentar, mas também têm efeitos psicológicos determinados pela volta de uma doença presumivelmente resolvida.
A síndrome de fraqueza tardia, ocorrente muitos anos após a poliomielite aguda, foi reconhecida há mais de 100 anos. Contudo, ela não teve reconhecimento público até que um grande número de casos começou a ser visto em 1980. Em 1875, a fraqueza tardia ocorrendo anos após a poliomielite foi relatada por Charcot e outros clínicos. Entre 1875 e 1975 somente cerca de 200 casos de Síndrome Pós Poliomielite foram descritos em publicações. Contudo, a partir de 1975 milhares de casos tem sido relatados.
Energizada pela esperança e pelo otimismo, a metade da década de 1980 e inicio da década 1990, viu surgir grupos de suporte (mais do que 298 em 1990) e grupos clínicos (96 em 1990), seguidos por um permanente declínio em torno de 2010 (131 grupos de suporte e 32 grupos clínicos) à medida em que os limites da pesquisa e as iniciativas próprias de ajuda tornaram-se óbvias. É que a população de pacientes com Síndrome Pós Poliomielite está idosa e diminui de tamanho. Mas ainda há milhares de pacientes com Síndrome Pós Poliomielite que requerem cuidados especializados de enfermagem por causa de sua idade avançada e de suas funções diminuídas.

Manifestações clínicas:
A Síndrome Pós Poliomielite se manifesta por sintomas e sinais neurológicos, musculoesqueléticos e sistêmicos. A manifestação neurológica mais proeminente é uma fraqueza progressiva, algumas vezes acompanhada de atrofia. Quando isto ocorre em uma extremidade, tem sido referido como Atrofia Muscular Progressiva da Pós-pólio (PPMA, em português AMPP). Contudo esta fraqueza nova pode afetar também os músculos respiratórios e bulbares. Os critérios de diagnóstico para PPMA derivaram-se dos critérios originais promulgados por Mulder e al., em 1972, os quais foram reconhecidos pelo grupo de Jubelt ET al. (Post-Polio Task Force). Inclui 4 critérios: (1) Um episódio anterior de poliomielite paralítica com perda do neurônio motor residual (que pode ser confirmado pela historia do paciente, exame neurológico e ainda exame eletro diagnóstico); (2) Um período de recuperação neurológica seguida de um intervalo (comumente de 15 anos ou mais) de estabilidade neurológica e funcional; (3) Um ataque gradual ou abrupto de nova fraqueza ou fadiga muscular anormal, resistência diminuída, atrofia muscular ou fadiga generalizada; (4) Exclusão de condições neurológicas, médicas e ortopédicas que possam causar os sintomas mencionados no número (3).

Manifestações Neurológicas
Novas e vagarosamente progressivas fraquezas musculares são o problema neurológico mais importante, ocorrendo na maioria dos pacientes com Síndrome Pós Poliomielite. Parece estar relacionado com a desintegração da unidade neurônio motor inferior (unidade motora) e pode ocorrer em músculos previamente afetados, ainda que recuperados parcial ou completamente ou em músculos que não foram afetados previamente. A Eletromiografia e os estudos em animais indicam que alguns músculos clinicamente não afetados tinham sido envolvidos de maneira subclínica durante o ataque de poliomielite aguda. Contudo, os músculos previamente afetados tornam-se fracos mais frequentemente do que aqueles não afetados. AS distribuição dessas novas fraquezas parece estar correlacionada com a gravidade da paralisia na época do ataque de poliomielite aguda e portanto, com o número de neurônios motores sobreviventes.
Quadro 1. Manifestações tardias novas mais comuns, de poliomielite em pacientes portadores de Síndrome Pós Poliomielite.

Sintoma Houston Madiso Syracusa
(n=32) (n=79) (n=100) (n=100)
Fadiga 89% 86% 83% 86%
Dor nas juntas 71% 77% 72% 73%
Dor muscular 71% 86% 74% 73%
Fraqueza
(musc. afetados) 69% 80% 88% 88%
(m. não afetados) 50% 53% 61% 59%
Total ……… 87% 95% 90%
Atrofia 28% 39% 59% 52%
Intolerancia frio 29% 56% 49% 53%
Insuf.Respiratória …….. 39% 42% 36%
Disfagia ……… 30% 27% 36%

Quadro adaptado de vários autores.
As novas atrofias não devem ocorrer como uma manifestação isolada e isto é visto em menos da metade dos pacientes com fraquezas novas. Em adição à fraqueza e atrofia causadas pela desintegração da unidade motora neurônio inferior, raramente foram encontrados sinais relacionados ao neurônio motor superior. Eles incluem hiperreflexia, sinal de Babinski e ocasionalmente espasticidade. De 180 pacientes com Síndrome Pós Poliomielite, sinais de que o neurônio motor superior foi afetado, foram encontrados em 15 (8,3%). Esta porcentagem é semelhante à frequência de sinais de neurônios motores encontrados durante a poliomielite aguda. Dor muscular (mialgias) que ocorrem na maioria dos pacientes, parecem ser devidas ao uso excessivo dos músculos fracos. Sintomas semelhantes ocorrem por uso excessivo dos músculos em outras doenças neuromusculares. A dor tem uma sensação de inflamação ou de hipersensibilidade com o mínimo exercício. Alguns pacientes têm hipersensibilidade muscular à palpação.
Novas fraquezas musculares podem também envolver grupos musculares, causando fraqueza muscular bulbar, insuficiência respiratória e apnéia do sono. A fraqueza muscular bulbar é mais frequentemente manifestada por disfagia, a qual tem sido relatada de 12 a 36% dos pacientes Síndrome Pós Poliomielite. É devida primariamente à fraqueza dos músculos faríngeos e laríngeos; contudo, os problemas locais da faringe e da laringe devem ser excluídos. Pacientes podem se queixar de engasgos, tornando o engolir vagaroso e difícil, frequentemente acompanhado de tosse e sensação de sufocação. Os estudos videofluoroscópicos revelam movimentos linguais prejudicados, constrição faringiana retardada e raramente aspiração, a qual comumente é suave. Menos frequentemente outros músculos bulbares, tais como os músculos faciais e cordas vocais podem tornar-se enfraquecidos na Síndrome Pós Poliomielite; tem sido também mencionada disartria.
A insuficiência respiratória ocorre primariamente em pacientes que tiveram durante a poliomielite aguda problemas de piora grave da respiração residual e reserva mínima. Semelhante à fraqueza dos membros, a falência respiratória ocorre mais comumente em pacientes que necessitaram suporte respiratório durante a doença aguda e ainda nas doenças que foram mais graves ou naqueles que contraíram pólio com idade igual ou maior que 10 anos. Pacientes com Insuficiência respiratória da Síndrome Pós Poliomielite perdem em média 1,9% de sua capacidade vital por ano. Isto é comumente devido à fraqueza da musculatura respiratória, mas também à hipoventilação central devido a dano residual da poliomielite bulbar aguda. Outros fatores tais como doença cardíaca ou pulmonar ou mesmo escoliose, podem contribuir para o problema. A Falência respiratória começa inicialmente com hipoventilação noturna, e os pacientes podem necessitar somente um suporte respiratório durante a noite. Se já possuem este suporte, poderão necessitar de um suporte ventilatório total.
A apnéia do sono não é rara em pacientes com Síndrome Pós Poliomielite. Ela pode ser central, obstrutiva ou mista. A maioria dos pacientes com apneia do sono central tem pólio bulbar e alguns requerem suporte ventilatório. Provavelmente o dano residual na formação reticular do tronco cerebral predispõe à apnéia do sono central. A apnéia do sono obstrutiva parece estar relacionada à fraqueza dos músculos faríngeos, obesidade e deformidade musculoesquelética. A fraqueza dos músculos respiratórios pode também contribuir para a apnéia do sono.
Câimbras e fasciculação sem fraqueza, pseudo hipertrofia muscular, formigamento, parestesias e outros problemas neuromusculares podem ocorrer menos frequentemente nos pacientes com Síndrome Pós Poliomielite, com ou sem fraquezas novas.

Manifestações Musculoesqueléticas
Dor, pela instabilidade das juntas, é a maior manifestação musculoesquelética e pode ocorrer sem fraquezas novas. O super estresse das juntas, a longo prazo, por causa da fraqueza residual, eventualmente resulta em deterioração das juntas e em dor. A escoliose progressiva, a postura pobre, a mecânica diferente causada pela fraqueza muscular e pela diferença de tamanho dos membros, tendões super estressados, falha na transferência de tendões, e falha nas fusões articulares podem também contribuir para a instabilidade articular e para a dor. Estes problemas articulares frequentemente levam à perda de mobilidade e ao retorno aos velhos aparelhos de suporte. A escoliose progressiva também pode contribuir para a falência pulmonar. Radiculopatias compressivas e mononeuropatias podem ocorrer como complicações musculoesqueléticas secundárias.

Manifestações sistêmicas
A maior manifestação sistêmica é a fadiga e ocorre em acima de 80% dos pacientes. É geralmente descrita como uma exaustão generalizada invalidante que se segue mesmo na atividade física mínima. Os pacientes se referem a ela como “polio wall”. Sua fadiga tem sido também descrita como “aumento da fraqueza física”, “cansaço”, “falta de energia” e ”perda de força aumentada durante o exercício”. Ela pode ser percebida como generalizada ou de origem muscular. A fadiga pode afetar tanto as funções mentais quanto físicas. Quando a fadiga generalizada é grave, o paciente apresenta dificuldade em coletar seus pensamentos e pode parecer confuso. Pode melhorar diminuindo a atividade física, espaçando as atividades diárias, e tirando períodos de repouso frequentes. A fadiga da Síndrome Pós Poliomielite parece responder bem ao sono, mais do que a síndrome da fadiga crônica. Em seus estudos em pacientes com e sem fadiga da Síndrome Pós Poliomielite, Östlund e colegas relatam que pacientes Síndrome Pós Poliomielite fatigados podem ser considerados um subgrupo distinto daqueles que têm fadiga contínua.
Outros manifestações sistêmicas menos frequentemente relatadas incluem um requerimento maior de sono, intolerância ao frio e estresses psicológicos. O requerimento maior de sono está provavelmente relacionado à fadiga grave. Muitos pacientes com Síndrome Pós Poliomielite se queixam de intolerância ao frio. Relatam piora dos sintomas, incluindo aumento de fadiga generalizada e fraqueza quando expostos à temperaturas frias. Pacientes podem desenvolver alterações de cor tais como cianose e empalidecimento das extremidades afetadas, o que é provavelmente relacionado ao dano da coluna intermediolateral simpática durante a poliomielite aguda. Sintomas psicológicos parecem estar relacionados à volta de um velho problema supostamente resolvido e ao estresse que acompanha as novas incapacidades que trazem uma maior alteração no estilo de vida.
De Grandis e colegas (2009) relataram um caso de um paciente que desenvolveu “Síndrome das pernas inquietas” juntamente com Síndrome Pós Poliomielite, 40 anos após a recuperação de um ataque de poliomielite paralítica. Marin e colegas (2011) descrevem a ocorrência de pernas inquietas em uma série de 10 pacientes com Síndrome Pós Poliomielite. Contudo, estudos posteriores deverão estabelecer a relação e a incidência de pernas inquietas na SPP.

Traduzido por Lise Mary Alves de Lima, em Fortaleza, 18/01/2014;
SUMÁRIO CLÍNICO – NOTA PRÉVIA.
Terakad S. Remachandran, Arun Ramachandran e Richard T. Johnson (N.Y. State University and John Hopkins University School of Medicine). Junho de 2013.

12 agosto 2017

Síndrome Pós-Poliomielite


O impacto da Síndrome Pós-Poliomielite na vida das pessoas que contraíram a poliomielite (paralisia infantil), nova doença, irreversível e incapacitante.
A Síndrome Pós-Poliomielite afeta os neurônios motores, e requer um novo olhar sobre os pacientes que contraíram a pólio, com uma nova abordagem sobre o tratamento, por equipes médicas multidisciplinares. Apesar da existência de vacina para proteger as pessoas contra a paralisia infantil, ainda não se encontrou a sua cura definitiva.
A Síndrome Pós-Poliomielite é uma desordem neurológica que acomete pessoas por volta dos 40 anos que, pelo menos 15 anos antes, foram infectadas pelo vírus da poliomielite e desenvolveram uma forma aguda ou inaparente da doença.
A principal característica da Síndrome Pós-Poliomielite é a perda das funções musculares que tinham permanecido estabilizadas no intervalo entre a recuperação e o aparecimento dos novos sintomas.
O quadro não é provocado pela reativação do vírus da poliomielite, mas pelo desgaste proveniente da utilização excessiva dos neurônios motores próximos daqueles que foram destruídos pelo poliovírus. Isso acontece porque, para compensar essa falta, apesar de também terem sido afetados, os neurônios sobreviventes passaram a enviar ramificações para inervar os feixes musculares comprometidos pela doença.
A tendência é que os casos de Síndrome Pós-Poliomielite diminuam consideravelmente nos países em que as campanhas de vacinação contra a poliomielite representaram uma estratégia importante para erradicar a doença.
Não existem estatísticas precisas sobre o número de portadores da Síndrome Pós-Poliomielite no Brasil. Na verdade, só em 2010, a enfermidade foi incluída no Catálogo Internacional de Doenças (CID 2010), graças a um trabalho desenvolvido por pesquisadores brasileiros na UNIFESP.

Sintomas
A Síndrome Pós-Poliomielite pode manifestar-se tanto em pacientes que desenvolveram um episódio de paralisia flácida quanto naqueles em que a infecção não deixou esse tipo de sequela.
Os principais sintomas da Síndrome Pós-Poliomielite são:

  • *      Fraqueza muscular progressiva nos membros atingidos ou não pela doença;
  • *      Cansaço excessivo;
  • *      Dores musculares e nas articulações;
  • *      Cãibras;
  • *      Dor de cabeça;
  • *      Dificuldade de deglutição e para controlar os esfíncteres;
  • *      Hipersensibilidade ao frio;
  • *      Distúrbios do sono;
  • *      Problemas respiratórios;
  • *      Depressão;
  • *      Ansiedade.
Diagnóstico
O diagnóstico leva em conta os sinais da Síndrome Pós-Poliomielite instalados há mais de um ano em pessoas que tiveram poliomielite no passado.  A eletroneuromiografia pode ser um exame útil para avaliar alterações na inervação e ajudar a excluir a possibilidade de outras doenças degenerativas com sintomas semelhantes.

Tratamento
Não existe tratamento específico para a Síndrome Pós-Poliomielite.  A abordagem é sempre multidisciplinar e inclui exercícios aeróbicos leves, de alongamento, de resistência com pouca carga, hidroterapia, orientação nutricional, assim como o uso de órteses (bengalas, muletas, andadores, coletes, por exemplo), de próteses, de equipamentos de assistência e suporte, de medicamentos para controle da dor e da ansiedade.
A fisioterapia é um recurso essencial para ajudar a manter a função muscular.

Recomendações
Pacientes com síndrome pós-pólio devem ser orientados para:
Ø  Reduzir ao máximo o gasto desnecessário de energia;
Ø  Estabelecer uma rotina de vida que permita incluir períodos de repouso entre as atividades do dia a dia;
Ø  Investir no condicionamento físico adequado visando ao fortalecimento da capacidade funcional;
Ø  Evitar realizar movimentos repetitivos;
Ø  Exercitar os músculos de forma criteriosa para que não atrofiem;
Ø  Valer-se do uso de equipamentos ou próteses que ajude a retardar o processo de evolução da doença.

Considerações Finais
Parece cada vez mais provável que a ameaça milenar da poliomielite em breve chegará ao fim. No entanto, a sombra da poliomielite vai continuar por décadas, tendo um pedágio significativo sobre a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas com Síndrome Pós-Poliomielite. A situação atual e as necessidades futuras são ainda desconhecidas. Suas vidas serão limitadas e não por sua deficiência, mas as ramificações médicas e sociais de sua deficiência, o estigma, a marginalização social e barreiras para recursos, tais como assistência médica, educação e emprego, que irá resultar em pobreza, falta de escolha e a negação dos direitos humanos fundamentais. Pesquisa e advocacia, bem como programas e políticas, são necessários para maximizar a saúde de forma mais eficaz aos sobreviventes da pólio e bem-estar, promovendo uma maior participação e inclusão social.

A erradicação da poliomielite é um campo de provas, um teste. Ele vai revelar o que os seres humanos são capazes de fazer, e sugerir como ambicioso que pode ser o nosso futuro. No entanto, argumenta-se que esta afirmação é igualmente relevante para aqueles enfrentando as consequências incapacitantes da poliomielite que resultaram na Síndrome Pós-Poliomielite. A batalha contra a poliomielite não será vencida até que a comunidade global possa garantir aqueles que vivem com as consequências incapacitantes da poliomielite que suas necessidades serão atendidas e os recursos serão disponibilizados para que possam funcionar plenamente e livremente nas sociedades em que vivem  agora e nas décadas que virão.
Para contribuir com a questão pública, pauto alguns pontos importantes no dia a dia do paciente acometido pela Síndrome Pós Poliomielite:
Distribuição de EQUIPAMENTO MOTORIZADO aos Pacientes acometidos pela Síndrome Pós Poliomielite com indicação médica para quem precisa se locomover de forma independente e confortável, com o mínimo de esforço em virtude do agravamento dos sintomas de degeneração e fadiga.
Distribuição de medicação de primeira geração para o controle das dificuldades degenerativas, fadigas e outros sintomas da Síndrome Pós Poliomielite.
Reforça a divulgação em âmbito nacional da Revisão e Atualização da Organização Mundial de Saúde, realizada na Classificação Internacional de Doenças, versão 10 (CID-10), concedeu um lugar especial Síndrome Pós Poliomielite (SPP), classificando-o no âmbito do "G14" tornando-se parte das doenças do sistema nervoso central.
Divulgar e considerar como centro de referencia o trabalho desenvolvido por pesquisadores brasileiros na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – Escola Paulista de Medicina (EPM) o qual criou o primeiro Ambulatório Especializado em Síndrome Pós Poliomielite na América Latina, sob a responsabilidade do Prof. Dr. Acary Souza Bulle Oliveira, Chefe do Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares.