Ruy Laurenti, Heloisa Brunow Ventura Di Nubila : Centro Colaborador
da OMS para a família de Classificações Internacionais – Departamento de
Epidemiologia, Faculdade de Saúde Pública da Universidade São Paulo (FSP/USP),
São Paulo SP, Brazil.
Abrahão Augusto Joviniano Quadros : Setor de
Investigação de Doenças Neuromusculares, Departamento de Neurologia e
Neurocirurgia, Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina
(UNIFESP/EPM), São Paulo SP, Brazil. Centro Universitário Adventista de São
Paulo (UNASP/SP), São Paulo SP, Brazil.
Mônica Tilli Reis Pessoa Conde : Centro de Controle
de Doenças da Coordenação de Vigilância em Saúde – CCD/COVISA da Secretaria
Municipal de Saúde do Município de São Paulo, São Paulo SP, Brazil.
Acary Souza Bulle Oliveira : Setor de Investigação de Doenças
Neuromusculares, Departamento de Neurologia e Neurocirurgia, Universidade
Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM), São Paulo SP,
Brazil.
Resumo:
A primeira
Classificação Internacional de Doenças (CID) foi aprovada em 1893 e, desde
então, vem sendo periodicamente revisada. A última, a décima revisão (CID-10),
foi aprovada em 1989. A partir de 1989, foram estabelecidos mecanismos para
atualizar a CID-10, o que não ocorria antes. A próxima revisão (CID-11)
provavelmente será publica em 2015. Os mecanismos para atualizar a CID-10,
incluíram a criação do Grupo de Referência de Mortalidade (Mortality Reference
Group – MRG) em 1997, e do Comitê de Revisão e Atualizações (Update &
Revision Committe – URC) em 2000. Em 2007, foi criado o Grupo de Referência em
Morbidade (morbidity Reference Group – MbRG), que passou a discutir mais
detalhadamente questões para atualização relacionada à Morbidade.
A Síndrome
Pós-Poliomielite não foi contemplada com um código específico na revisão da
CID-10 de 1989. Entretanto, a partir do ano de 2010, foi incluída na CID-10 o
código G14 para a SPP.
Palavras-Chave: Classificação internacional de Doenças, Família
de Classificações Internacionais, síndrome pós-poliomielite.
Para se cumprir o
principal objetivo da saúde pública, “...ciência e arte de evitar a doença,
prolongar a vida e promover a saúde mediante a atividade organizada da
sociedade”, é preciso conhecer quais são os problemas de saúde, quais seus
tipos e como eles se distribuem na população. Os nomes que a eles são dados e
as maneiras de classificá-los fornecem os elementos para seu melhor
conhecimento e compreensão.
Nosologia é a
classificação de pessoas doentes segundo grupos – qualquer que seja o critério
de classificação – bem como os acordos ou definições quanto aos critérios ou
limites dos grupos. A nosografia atribui nome a cada entidade mórbida, a
reunião desses nomes constitui uma nomenclatura de doenças.
A nosografia tenta
traduzir e possibilitar nossa compreensão sobre as causas, sobre a patogênese e
sobre a natureza da doença e, segundo Last, é o arcabouço conceitual para o
conhecimento sobre os problemas de saúde, fornecendo as bases para o
planejamento e a avaliação. Possibilita a todos que tratam da assistência bem
como dos problemas de saúde se comunicar entre si em uma mesma linguagem.
A nosografia é a
nomenclatura de doenças. É, portanto, a maneira pela qual um determinado agravo
á saúde que tenha determinados sintomas e sinais, bem como alterações
patológicas específicas, recebe o mesmo rótulo, que pode também ser chamado
diagnóstico, em qualquer lugar do mundo. Por definição, uma nomenclatura é um
catálogo de termos e, no caso de uma nomenclatura de doenças, cada uma delas
deve apresentar um verbete, visto que sua função principal é ajudar a se chegar
à expressão mais precisa que descreve o padecimento do doente, isto é, o
diagnóstico.
A Nosologia, é uma classificação de doenças segundo características comuns e serve, basicamente,
para finalidades estatísticas quanto à distribuição das doenças na população.
É comum dizer que
“nomenclatura” (nosografia) e “classificação” (nosologia) não são antagônicas mas, antes, têm finalidades
distintas. Uma boa classificação, obviamente, só pode ser construída se tiver
uma boa nomenclatura.
Nosografias sempre
existiram em todas as sociedades, mesmo as mais primitivas, as quais
apresentavam teorias sobre a origem natural e sobrenatural da doença. O nome
dado a uma doença quase sempre tentava traduzir isso. O conceito de entidade
mórbida específica aparece nos textos médicos primitivos hindus, assírios e
egípcios. Podem ser citados o Papiro Ginecológico de Kahum (1900 A.C.), o
Papiro de Edwin Smith (1600 A.C.), o Papiro de Ebers (1500 A.C.), as tábuas de
argila da biblioteca de Nínive do rei Assurbanipal (668-626 A.C.) e o Charaka
Samhita (100 A.D.). O texto hindu conhecido como Sushruta Samhita (600 A.D.)
apresenta uma classificação ordenada de doenças e lesões. Este último,
portanto, é ao que tudo indica, a mais antiga proposta de classificação de
doenças e lesões.
Classificação de Doenças
A análise estatística
de uma variável com grande número de categorias – como é o caso da variável
doença – só é possível classificando essas categorias. Uma classificação de
doenças é um sistema que agrupa as doenças análogas, semelhantes ou afins,
segundo uma hierarquização ou eixo classificatório. Uma Classificação
estatística de doenças implica, portanto, um conjunto de grupos de diagnósticos
ou doenças, visto que o interesse principal são os agrupamentos e não os casos
individualizados como em uma nomenclatura.
Em uma classificação,
o número de categorias tem que ser restringido e sempre deve estar prevista a
possibilidade de incluir um novo diagnóstico dentro de um agrupamento já
existente.
Segundo numerosos
estudiosos do assunto, há unanimidade quanto a atribuir ao inglês John Graunt o
primeiro estudo estatístico de doenças, no caso análise da mortalidade por
causa. Esse estudo apareceu na clássica e sempre citada publicação de 1662
“Natural and Political Observation Made Upon the Bills of Mortality”, onde
analisou a mortalidade de Londres, a partir dos dados registrados nas
paróquias, segundo algumas variáveis, como sexo, idade, procedência e o grande
feito! – causa.
Graunt listou 83
causas de morte as quais incluíam algumas explicitamente etiológicas (“shot”, “smothered
and stifed”, “drowne”, “plague”); outras levam a algum tipo de indicação da
patogenia (“apoplex”, “excessive drinking”, “measles”, “quinsey”, “worms”),
outras se referiam principalmente às circunstâncias que causaram a morte ou os
sintomas e sinais que a precederam (“abortive and stillborn”, “aged”, “câncer”,
“convulsion”, “surfet”). Comentando a lista elaborada por Graunt, Last diz o
seguinte: “...mostra a dificuldade – ainda hoje existente – de construir uma
nosografia que apresente um conceito uniforme de doença. Somos incapazes de
escapar de uma classificação híbrida onde algumas condições referem-se ao
conhecido ou suposto etiologicamente, outras aparecem segundo a morfologia ou a
fisiopatologia, bem como outras segundo o sistema afetado ou ainda
circunstâncias externas”.
A lista de causas de
morte elaborada por Graunt é considerada, historicamente, como a primeira
classificação de doenças (Tabela 1). A rigor, entretanto, não era uma
classificação, mas tão somente uma lista de diagnósticos dispostos segundo
ordem alfabética.
A partir de Graunt
foram feitas várias tentativas visando criar uma classificação de doenças. Na
realidade, eram classificações de causas de morte, não incluindo, a maioria
delas, as doenças não letais.
Essas classificações
quase sempre não passavam de exercícios médicos, à maneira de trabalhos
acadêmicos, sem aplicações aparentes. Poucas foram realmente utilizadas, e
quando o eram, a utilização era limitada. Não havia uma classificação de uso
internacional, o que dificultava ou praticamente impedia a comparabilidade internacional
sobre frequência de doenças que eram causas de morte.
A Classificação Internacional de Doenças
Desde Graunt, em sua
publicação de 1662, até praticamente às primeiras décadas do século XX, as
informações sobre frequência de doenças eram aquelas advindas das estatísticas
de mortalidade por causa. Com exceção de dados sobre as chamadas doenças
notificáveis, geralmente doenças infecciosas e epidêmicas, não havia
estatísticas de morbidade, como por exemplo, as hospitalares e as de
atendimento ambulatorial. Esse é o motivo pelo qual a história das
classificações de doenças e, particularmente, a da classificação internacional
como a atualmente existente, iniciou-se e por muito tempo continuou sendo uma
classificação de causa morte.
TABELA 1. The Disease and Casualties this year being 1632. Causas de morte
elaboradas por John Graunt a partir das Listas de Mortalidade de Londres.
Abortive
and stillborn
|
445
|
Grief
|
11
|
Affrighted
|
1
|
Jaundies
|
43
|
Aged
|
628
|
Jawfaln
|
8
|
Ague
|
43
|
Impostume
|
74
|
Apoplex
and meagron
|
17
|
Kil’d
by several accidents
|
46
|
Bit with a mad dog
|
1
|
King’s evil
|
38
|
Bleeding
|
3
|
Letharge
|
2
|
Bloody flux,
scowring and flux
|
328
|
Livergrown
|
87
|
Brused, issues,
sores, and ulcers
|
28
|
Lunatique
|
5
|
Burnt, and scalded
|
5
|
Made away themselves
|
15
|
Burst, and rupture
|
9
|
Measles
|
80
|
Cancer, and wolf
|
10
|
Murthered
|
7
|
Canker
|
1
|
Over-laid, and
starved at nurse
|
7
|
Childbed
|
171
|
Palsie
|
25
|
Chrisomes, and
infants
|
2268
|
Piles
|
1
|
Cold, and Cough
|
55
|
Plague
|
8
|
Colicki, stone, and
strangury
|
56
|
Planet
|
13
|
Comsumption
|
1797
|
Pelurisis, and
spleen
|
36
|
Convulsion
|
241
|
Purples, and
spotted feaver
|
38
|
Cut of the stone
|
5
|
Quinsie
|
7
|
Dead in the street,
and starved
|
6
|
Rising of the
lights
|
98
|
Dropsie, and
swelling
|
267
|
Sciatica
|
1
|
Drowned
|
34
|
Scurvey, and itch
|
9
|
Executed, and prest
to death
|
18
|
Suddenly
|
62
|
Falling sickness
|
7
|
Surfet
|
86
|
Fever
|
1108
|
Swine pox
|
6
|
Fistula
|
13
|
Teeth
|
470
|
Flocks, and small
pox
|
531
|
Thrush, and sore
mouth
|
40
|
French pox
|
12
|
Tympany
|
13
|
Gangrene
|
5
|
Tissick
|
34
|
Gout
|
4
|
Vomiting
|
1
|
Worms
|
27
|
A necessidade de
comparar causas de morte Segundo áreas ou regiões de um país e, principalmente,
entre países, fez crescer o interesse para se usar uma mesma classificação
internacionalmente.
Várias tentativas
foram feitas nesse sentido, principalmente a partir da segunda metade do século
XIX.
Ao propor uma
classificação para as causas de morte, Willam Farr acentuou que as doenças
poderiam ser classificadas de diferentes maneiras visando servir a propósitos
estatísticos e quanto à finalidade de estudar causas de morte ele foi
influenciado pela maneira como havia feito Carolus Linnaeus (médico Botânico
Sueco) em suas classificações hierarquizadas, botânica e zoológica. Farr propôs
uma classificação, que se reconhece como a base estrutural da atual classificação
internacional de doenças.
A importância de uma
classificação estatística de uso internacional foi reconhecida e fortemente
recomendada no Primeiro Congresso Internacional de Estatística realizado em
1853 na cidade de Bruxelas. Os participantes indicaram Willian Farr e Mar
d’Espine, de Genebra, para realizar a tarefa de preparar uma “nomenclatura
uniforme de causas de morte aplicável a todos os países”. Em 1855, em Paris,
realizou-se o Segundo Congresso Internacional de Estatística, onde Farr e
d’Espine apresentaram listas separadas e baseadas em eixos diferentes de
classificação. A classificação proposta por Farr continha 5 classes, seguinte
maneira:
Classe 1
|
Doenças
epidêmicas, endêmicas e contagiosas
|
Classe 2
|
Doenças
constitucionais
|
Classe 3
|
Doenças
localizadas
|
Classe 4
|
Doenças
do desenvolvimento
|
Classe 5
|
Doenças
ou mortes violentas
|
Essas classes eram
divididas em ordens e, particularmente para a Classe 3, existiam 8 ordens. Essa
divisão, como pode ser observado a seguir, foi a matriz para a atual
classificação internacional:
Ordem 1
|
Doenças
do sistema nervoso
|
Ordem 2
|
Doenças
da circulação
|
Ordem 3
|
Doenças
da respiração
|
Ordem 4
|
Doenças
da digestão
|
Ordem 5
|
Doenças
do sistema urinário
|
Ordem 6
|
Doenças
da reprodução
|
Ordem 7
|
Doenças
da locomoção
|
Ordem 8
|
Doenças
do sistema inter-tegumentário
|
A Lista apresentada
por Marc d’Espine agrupava as doenças de acordo com sua natureza (gotosa,
hemática, herpética...) e não teve muita aceitação. O Congresso adotou uma
Lista de 138 rubricas, mantendo a estrutura proposta por Farr com a inclusão de
algumas sugestões de d’Espine. Os Congressos subsequentes, de 1864, 1874, 1880
e 1886 revisaram essa lista. Esta classificação, adotada no Congresso de 1855 e
revista nos seguintes, não foi universalmente aceita, mas é preciso destacar
que o princípio de agrupar as doenças, principalmente por localização
anatômica, como havia sido proposto por Farr, sobreviveu e influenciou
fortemente a futura classificação de doenças de uso internacional.
Em 1891 o então
criado “Instituto Internacional de Estatística”, em Viena, substituiu os
Congressos Internacionais de Estatística quanto a questões relativas a
classificações e, neste ano, formou uma Comissão para preparar uma nova
classificação. Essa Comissão estava sob a direção de Jacques Bertillon
(1852-1922), de Paris, e preparou uma classificação de causas de morte que
ficou conhecida como “Classificação das Causas de Morte de Bertillon”.
Bertillon era o chefe
dos serviços de estatísticas da cidade de Paris, função semelhante à que tinha
tido William Farr na Inglaterra, e a classificação que elaborou apresentava 14
grupos ou capítulos; este último nome persiste até hoje para as grandes
divisões da Classificação Internacional de Doenças. Os 14 capítulos tinham, em
conjunto, 161 categorias ou causas de morte.
A Classificação de
Bertillon foi adotada em 1893 pelo Instituto Internacional de Estatística e
recomendado o seu uso internacional de Estatísticas e recomendado o seu uso
internacionalmente, o que foi adotado por vários países. É considerada a
primeira classificação internacional de causas de morte. É interessante
apresentar como eram identificados seus 14 capítulos (Tabela 2), devendo-se
notar que os capítulos estavam ordenados segundo números romanos, tradição que
se segue até hoje.
É justo ou correto
enfatizar que o grande batalhador para se conseguir uma classificação de uso
internacional foi o inglês já citado William Farr (1808-1883) primeiro médico
estatístico a dirigir o “General Register Office of England and Walles” a
partir de 1837.
I
|
Doenças
gerais
|
II
|
Doenças
do sistema nervoso e órgãos dos sentidos
|
III
|
Doenças
do aparelho circulatório
|
IV
|
Doenças
do aparelho respiratório
|
V
|
Doenças
do aparelho digestivo
|
VI
|
Doenças
do aparelho geniturinário e de seus anexos
|
VII
|
Estado
puerperal
|
VIII
|
Doenças
da pele e do tecido celular
|
IX
|
Doenças
dos órgãos da locomoção
|
X
|
Vícios
de conformação
|
XI
|
Primeira
idade
|
XII
|
Velhice
|
XIII
|
Afecções
produzidas por causas externas
|
XIV
|
Doenças
mal definidas
|
As Revisões da Classificação e a Mudança de Objetivos da
Classificação Internacional de Doenças.
A Classificação
(Lista Internacional de Causas de Morte) aprovada em 1893 e que se tornou de
uso internacional teve uma primeira revisão em 1900, e uma segunda em 1909, de
acordo com que havia sido aprovado em 1893, isto é, que deveria haver revisões,
na medida do possível a cada dez anos (Tabela 3).
As revisões, da
primeira (1900) até a quinta (1938) foram convocadas pelo governo francês, eram
conhecidas como “Classificação Internacional de Causas de Morte” ou
“Classificação de Bertillon”.
As Adaptações da CID para Especialidades.
O número de
categorias foi ampliado, a partir da CID-6, para possibilitar o uso em
morbidade, na CID-10 esse número foi bastante aumentado. Apesar dessa ampliação
as diferentes especialidades médicas reclamaram que isso não era suficiente. De
fato, ainda persiste a “filosofia” da causa de morte, isto é, a causa inicial
(básica) é que deve aparecer nas estatísticas. Assim como exemplo para o
diabetes, como tal, é suficiente ter um código de categoria para causas de
morte (agrupamento E10-E14) com sub-categorias que descrevem do modo geral as
complicações renais; .3 complicações oftálmicas; .4 complicações neurológicas;
.5 complicações circulatórias periféricas; .6 ouras complicações).
Entretanto, para
análise da morbidade, é preciso, ou mesmo necessário, ter categorias para as
mais diferentes complicações ou mesmo manifestações clínicas: nefropatia
(NO8.3), catarata (H28.0), retinopatia (H36.0), mononeuropatia (G59.0),
polineuropatia (G63.2), gangrena e angiopatia (I79.2) diabéticas, e várias
outras.
Categorias
|
Revisões
|
Ano de Conferência
que a adotou
|
Anos de uso
|
Doenças
|
Causas Externas
|
Motivos assist.
saúde
|
Total
|
Primeira
|
1900
|
1900-1909
|
157
|
22
|
179
|
|
Segunda
|
1909
|
1910-1920
|
157
|
32
|
189
|
|
Terceira
|
1920
|
1921-1929
|
166
|
39
|
205
|
|
Quarta
|
1929
|
1930-1938
|
164
|
36
|
200
|
|
Quinta
|
1938
|
1939-1948
|
164
|
36
|
200
|
|
Sexta
|
1948
|
1949-1957
|
769
|
153
|
88
|
1.010
|
Sétima
|
1955
|
1958-1967
|
800
|
153
|
88
|
1.041
|
Oitava
|
1965
|
1968-1978
|
858
|
182
|
48
|
1.088
|
Nona
|
1975
|
1975-1992
|
909
|
192
|
77
|
1.178
|
Décima
|
1989
|
1993-2020
|
1.575
|
373
|
82
|
2.032
|
Não é fácil
contemplar na CID, para grande número de
diagnósticos, a inclusão de todas as manifestações e complicações cada uma com
um código para categorias ou sub-categorias. As especialidades médicas passaram
a elaborar “adaptações da CID para especialidades”. Nestas é mantida a mesma
estrutura quanto ao número de capítulos, agrupamentos, categorias e
sub-categorias sendo agregadas novas sub-categorias. Novos termos de inclusão
que indicam algum tipo de manifestação clínica ou complicações são incluídos
nas categorias e sub-categorias já existentes.
Na 8ª Revisão (CID-8)
e na 9ª Revisão (CID-9) foram criadas algumas adaptações como a de odontologia
e estomatologia (CID-OE), a de oncologia (CID-O). No “Relatório da Conferência
Internacional Para a Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças”
(26 de setembro a 2 de outubro de 1989) esse fato está relatado, juntamente com
o comentário sobre o desenvolvimento de uma adaptação preparada pelo programa
de saúde mental. Também enfatizada a proposta da compilação dos códigos da CID
relevantes para a Psiquiatria e a Neurologia, isto é, a adaptação da CID-10
para essas especialidades. Assim, foram
publicadas as adaptações: “ICD-NA-Application
of the International Classification of Diseases to Neurology” e a “The ICD-10
Classification of Mental and Behavioral Disorders – Clinical description and
diagnostic guidelines”.
Processo de Atualização da CID.
Até a 9ª Revisão (CID-9),
as revisões da CID eram decenais. No
entanto, a CID-10 foi aprovada após 15 anos, em 1989 e a próxima futura revisão
(CID-11) deverá ser publicada em 2015, ou seja, após um intervalo aproximado de
25 anos. Admite-se tal intervalo mais amplo em razão de existir, a partir da
décima revisão, a possibilidade de atualização da CID entre as revisões, o que
não ocorria antes.
No relatório da
Conferência Internacional para a Décima Revisão, em 1989, que aprovou a CID-10,
foi apresentada a recomendação de que “a OMS endosse o conceito de um processo
de atualização no período entre duas revisões e considere em prática. Foram então estabelecidos mecanismos para
atualizar a CID-10, por meio da criação do Grupo de Referência de Mortalidade (Mortality Reference Group) – MRG em
1997, e do Comitê de Revisão e Atualizações (Update & Revision Committee) – URC em 2000. Em 2007, foi
criado o Grupo de Referência em Morbidade (Morbidity
Reference Group) – MbRG que passou a discutir mais detalhadamente questões
para atualização relacionadas a Morbidade.
O URC recebe
propostas do MRG, MrRG e de membros dos Centros Colaboradores da OMS para a
Classificação de Doenças, analisa-as e submete as recomendações de mudanças na
CID-10 aos Diretores dos Centros Colaboradores a cada ano. O URC também
desenvolve as políticas para gerenciar o processo de atualização. No processo
de atualização, foram estabelecidas duas categorias: Atualizações Principais
(ou Major) e Secundárias (ou Minor). A inclusão ou exclusão de códigos é um tipo
de atualização principal importante, bem como alterações de regras ou linhas de
ação que afetem a integridade dos conjuntos de dados de morbidade ou
mortalidade. Em geral, têm pelo menos três anos de intervalo entre sua
aprovação e implantação. Há exceções como no caso da ocorrência da Gripe
aviária que teve seu código (J09) rapidamente aprovado e implantado no mesmo
ano.
As etapas que
antecedem o uso de um código novo ou revisado seguem um processo de trâmite
natural de alguns anos, com um determinado fluxo definido pela OMS. A proposta
de um novo diagnóstico ou doença pode ser feita diretamente à OMS, que encaminha
para a “Rede de Centros Colaboradores da OMS” ou então via um dos Centros. As
propostas de atualização e sua discussão são coordenadas pelo Comitê de
Atualização e sua discussão são coordenadas pelo Comitê de Atualização da CID e
tanto seu funcionamento como sua história e as propostas já realizadas podem
ser consultadas na página da OMS. Atualmente, propostas podem ser apresentadas
e acompanhadas na plataforma de revisão da CID-10 na página: http://extranet.who.int/icdrevision.
A análise por
técnicas e especialistas representa em geral o período mais logo, sendo o
assunto discutido em plataforma na internet, acessível publicamente por meio de
registro, passando por debates em encontros presenciais até a aprovação final.
Inclusão da SÍNDROME PÓS-POLIOMIELITE NA CID-10.
As décadas de 70 e 90
foram marcadas pelos grandes avanços no conhecimento da Síndrome
Pós-Poliomielite (SPP), começando com o estabelecimento do primeiro critério
diagnóstico por Mulder e culminando com a publicação do primeiro compêndio
sobre a patogêneses e tratamento da SPP em 1995.
Entretanto, não foi
tomada nenhuma iniciativa para inclusão da SPP na CID, talvez pela realidade
dos países desenvolvidos, diferente da brasileira, em que há premência em
atender as solicitações dos pacientes sem classificação na CID.
A experiência no
atendimento de pacientes com história de poliomielite paralítica com queixas de
novos sintomas no Setor de Investigação de Doenças Neuromusculares da
Universidade Federal de São Paulo (SIDNM/UNIFESP) pode ser dividido em quatro
fases: a primeira, de 1972 a 2002, culminando com a publicação do primeiro
artigo sobre a SPP no Brasil; a segunda, de 2003 a 2005, fase da instalação e
estruturação do ambulatório específico da SPP, tendo como resultado a primeira
pesquisa sobre a caracterização detalhada da SPP no Brasil e a elaboração do
Documento Técnico da SPP; a terceira fase, de 2006 a 2011 com o desenvolvimento
de diversas pesquisas sobre aspectos clínicos específicos da SPP e publicação
da primeira e segunda edição do Manual “Síndrome Pós-Poliomielite: Orientações
para profissionais da saúde”; e a quarta fase, a partir de 2012 inaugurada com
o primeiro ensaio clínico fase III.
As dificuldades
vivenciadas no SIDNM da UNIFESP para atender os pacientes que dependiam da
emissão de laudo médico para atender suas necessidades no contexto da saúde,
social e judicial, foram muitas, já que a revisão da CID-10 de 1989 contemplava
os diversos tipos de poliomielite aguda e sequela de poliomielite paralítica,
mas não contemplava a Síndrome Pós-Poliomielite. Diante dessa realidade o SIDNM
baseado no documento técnico da SPP, elaborado em parceria com o Centro de
Controle e Prevenção de Doenças da Coordenação de Vigilância em Saúde da
Prefeitura do Município de São Paulo e a Associação Brasileira da Síndrome
Pós-Pólio, submeteu em 2004 a solicitação de inclusão da SPP na CID ao Centro
Brasileiro de Classificação de Doenças (CBCD) ou como é oficialmente denominado
junto à OMS, “Centro Colaborador da OMS para a Família de Classificações
Internacionais em Português” que faz parte do Departamento de Epidemiologia da
Faculdade de Saúde Pública da USP – Universidade de São Paulo.
A proposta para
criação de um código específico para a síndrome pós-poliomielite, foi
apresentada pelo CBCD na reunião do Comitê de Revisão e Atualização (URC) em
2005 (Figura), discutida e defendida na reunião do MbRG na Suécia em fevereiro
de 2008. A proposta foi bem recebida pelos membros do MbRG que também fazem
parte do URC, sendo aprovada em outubro de 2008, para a inclusão do código G14 na CID-10, a partir de 2010. Foi
adicionada na Categoria de Atrofias Sistêmicas que Afetam Principalmente o
Sistema Nervoso Central (G10-G14):
G14 síndrome
pós-polio.
Inclui: síndrome
mielítica póspolio.
Exclui: sequela de
poliomielite (B91).
|
A inclusão da SPP na
CID-10 em 2008 se dá 133 anos após a primeira descrição clínica feita por Jean
Martin Charcot em 1875.
A SPP é uma síndrome
clínica caracterizada por nova fraqueza muscular em musculatura previamente
afetada ou não, acompanhada ou não de fadiga muscular, dor muscular e
articular. Outros sintomas podem estar presentes como: intolerância ao frio,
alteração do sono, dificuldade respiratória, disfagia e disfonia. Em virtude de
estarem os quadros clínicos e histológico intimamente relacionados com
disfunção dos neurônios motores inferiores, a SPP encontra-se na categoria das
doenças do neurônio motor, classificada como síndrome do neurônio motor
inferior de forma esporádica. Cerca de 30 a 40 anos após a poliomielite aguda
ocorre a instalação de nova fraqueza muscular na média em 60% nos casos
paralíticos e em 40% nos casos não paralíticos.
WHO-FIC
2005/B.6-5
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URC Submissions
2005 Final Round v2
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Tokyo, Japan
16-22 October 2005
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URC Reference No: 0313
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Proposed by:
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Brazil
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Change to volume
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I
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III
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Type of Proposal:
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Major
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Description
(term/Code):
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Post-Polio syndrome
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Proposal for
update:
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The proposal is to
create a new code for Post-Polio Syndrome (PPS): G14
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Proposta 0313 (Brasil)
Recomendada na UCR para inclusão da SPP na CID-10.
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Família de Classificações Internacionais e a CID-11.
No Brasil, o uso da
CID é compulsório para compor a base de códigos de todas as informações em
Mortalidade (Portaria GM/MS nº 1832/94,
publicada no DOU nº 218, de 03 de
novembro de 1994) e em Morbidade (Portaria nº
1311/GM de 12 de setembro de 1997). Os códigos da CID são utilizados no SIM (Sistema de Informação em
Mortalidade), no SIH (Sistema de
informação de Internações Hospitalares) e no SINAM (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), ou mesmo
no campo destinado ao diagnóstico de malformações congênitas na Declaração de
Nascidos Vivos que está incluído no SINASC
(Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos).
Embora a CID seja
adequado para finalidades como as acima descritas, ela não é adequada para
descrever funcionalidade e incapacidade como componentes da saúde, ou mesmo intervenções
em saúde.
Nos anos 70, durante
a preparação da 9ª Revisão da CID, começou-se a discutir a ideia de uma
“família” de classificações, sendo que suas bases foram estabelecidas em 1989,
na Conferência Internacional para a CID-10. Esta família é composta por um
conjunto de classificações integradas, que compartilham características, e que
podem ser usadas isoladamente ou em conjunto para fornecer informações de saúde
ou relacionadas à saúde. Com este conceito de família, foi alinhada uma nova
classificação de saúde com a CID-10 entre as classificações principais, ou
também chamadas “classificações de referência”: a Classificação Internacional
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), que apresenta aspectos
adicionais de domínios da saúde, da funcionalidade e da incapacidade.
Considerando o impacto das afecções de saúde na vida das pessoas, dentro de
seus próprios contextos, CID e CIF são classificações complementares que
oferecem uma descrição mais completa da situação de saúde. No que se refere às
afecções do sistema nervoso e ao prejuízo que podem causar à funcionalidade do
indivíduo, a CIF apresenta um modelo conceitual que pode ampliar a atuação na
Neurologia Clínica, descrevendo não mais apenas as lesões e as doenças, mas
também a funcionalidade e a incapacidade vividas pela pessoa em todos os seus
aspectos biopsicossociais.
Atualmente, estão em
andamento os preparativos para a décima primeira revisão da CID, a CID-11, a
ser apresentada à Assembleia Mundial da Saúde em 2015. Entretanto, não se
espera que sua utilização ocorra antes de 2020. Contará com uma plataforma
eletrônica com interface e uso conjunto com a CIF. O formato atual desta
plataforma pode ser visto no iCAT (ICD
Collaborative Authoring Tool) no endereço: https://sites.google.com/site/icd11revision/home/icat
onde são mostradas as formas preliminares de associação de elementos da CIF,
que podem ser “pareados” com itens do SNOMED (Standard Nomenclature of Medical
Diagnosis) e da CID-11, por enquanto compatível apenas com os capítulos de
estruturas corporais da CIF.
O trabalho de revisão
da CID visa atualizar a Classificação de Doenças de modo a incluir todo o novo
conhecimento científico, clínico e de saúde pública, integrando uma ampla rede
de consultores e de tecnologia baseada na internet para coletar, integrar e
compartilhar informações. Neste processo, é importante que seja viabilizada a
referência cruzada com sistemas de terminologia e a harmonização da CID com as
demais classificações da Família de Classificações Internacionais da OMS. Devem
ser preparadas adaptações dirigidas às diferentes necessidades dos usuários.
Para organizar o
trabalho de revisão da CID com vistas à CID-11, a OMS dividiu o trabalho por
especialidades, em grupos denominados TAG (Topic Advisory Group) e em grupos de
trabalhos (Working Groups) coordenados por um comitê (Steering Committee).
Foram constituídos TAGs para Medicina Interna, com grupos de trabalho para
cinco áreas dentro dessa especialidade, bem como TAGs para dermatologia, causas
externas de lesões, doenças maternas, neonatais e urogenitais, saúde mental,
músculo-esquelético, neurologia, oftalmologia e doença raras. Além desses TAGs,
foram formados outros para mortalidade, morbidade, funcionalidade e informações
de saúde, que vêm trabalhando para organizar a décima primeira revisão.
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http://ref.scielo.org/njwjjc |
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