Após o desenvolvimento das vacinas de Salk
(1955) e de Sabin (1961), a poliomielite (ou paralisia infantil) foi
erradicada de quase todos as países do mundo. Em 1995, registaram-se
6197 casos de poliomielite em todo o mundo; em 1996 foram identificados
3995 casos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula existirem cinco
a dez vezes mais casos de paralisia do que os constantes nos
relatórios, contudo, a identificação de novos casos é cada vez mais
rigorosa. A OMS declarou como objectivo para o ano de 2000 a total
erradicação da infecção aguda pelo vírus da poliomielite.
Os cálculos da OMS estimam existirem 12 milhões de pessoas em todo o
mundo com algum grau de limitação física causada pela poliomielite. Os
dados preliminares de uma pesquisa realizada pelo Centro Nacional de
Estatística de Saúde dos Estados Unidos apontam para a existência de
cerca de 1 milhão de sobreviventes naquele país, dos quais cerca de
433.000 sofreram paralisias de que resultam diferentes graus de
limitações motoras. Os sobreviventes de poliomielite viveram durante
décadas uma vida activa, esquecendo terem sofrido a infecção da
poliomielite, e apresentando um estado de saúde estável.
Nos finais da década de 70, os sobreviventes da poliomielite
começaram a sofrer de novos problemas tais como fadiga, dor, e fraqueza
geral. Em meados da década de 80, os agentes de saúde reconheceram esses
novos problemas como sendo reais e não "apenas imaginados pelos
pacientes." Desde essa altura têm vindo a ser conduzidos, nos institutos
de investigação e centros médicos, estudos sobre este fenómeno chamado
de "síndroma pós-pólio".
Os sintomas podem incluir:
- Uma fadiga fora de vulgar - quer um cansaço muscular súbito, quer uma sensação generalizada de exaustão.
- Novo enfraquecimento dos músculos, quer dos que foram originalmente afectados, quer daqueles que não foram afectados.
- Dores nos músculos e/ou nas articulações.
- Perturbações do sono.
- Dificuldade de respiração.
- Dificuldade de deglutição.
- Diminuição da capacidade de tolerância de temperaturas baixas.
- Redução na capacidade de efectuar as actividades diárias, tais como andar, tomar banho, etc.
Estes sintomas gerais, não devendo ser apenas considerados como
consequências do envelhecimento, podem produzir diversos graus de
incapacidade e a evolução destes pode manifestar um carácter insidioso.
Estudos recentes apontam para o facto de os anos de vida em que uma
pessoa infectada viveu com o vírus da poliomielite representarem um
factor de risco equivalente ao factor envelhecimento. Aparentemente, as
pessoas inicialmente atingidas pelo vírus da paralisia infantil, e que
recuperaram grande parte das suas capacidades funcionais, apresentam
nesta fase das suas vidas mais problemas do que aqueles que tiveram uma
infecção inicial menos severa.
Um diagnóstico por exclusão
Não existe ainda qualquer teste conclusivo que permita determinar
as causas para este conjunto de sintomas. Verifica-se alguma confusão,
não só entre os sobreviventes da poliomielite, mas também entre os seus
familiares e entre os próprios profissionais de saúde, devido a uma
certa confusão relativa à terminologia utilizada. é importante ver os
problemas da síndroma pós-pólio de acordo com as categorias a seguir
referidas, tendo em conta que os conjuntos de sintomas não podem ser
vistos individualmente mas fazendo parte de um todo.
A categoria mais ampla e inclusiva designa-se por efeitos tardios
da poliomielite ou sequelas da poliomielite, e compreende um conjunto
específico de novos problemas de saúde originados pelo vírus da
poliomielite e caracterizados por uma crónica perda de capacidades
motoras, como por exemplo, artrite degenerativa resultante do desgaste
excessivo das articulações ou a síndroma do canal cárpico, assim como
outros problemas recorrentes de locomoção, como a tendinite, a bursite, o
enfraquecimento dos ligamentos das articulações e a tensão excessiva
das articulações resultante de movimentos compensatórios do corpo.
A síndroma pós-pólio é uma sub-categoria dos efeitos tardios da
poliomielite e é definida como um novo conjunto de sintomas de
enfraquecimento muscular, fadiga e dor, resultando numa diminuição da
capacidade funcional e/ou no surgimento de novas incapacidades. A
maioria dos médicos usa os seguintes critérios para diagnosticar a
síndroma pós-pólio:
Ocorrência de graves paralisias resultantes da poliomielite. A
maioria dos médicos efectua um electromiograma (EMG) de forma a
documentar alterações que apresentem compatibilidade com as primeiras
sequelas da infecção de poliomielite.
Recuperação seguida de vários anos de estabilidade no período que
medeia entre as primeiras manifestações da poliomielite e o aparecimento
de novos problemas, que podem incluir: gradual ou súbito
enfraquecimento dos músculos afectados e/ou dos músculos aparentemente
não afectados, podendo ou não ser acompanhado por fadiga excessiva,
dores nos músculos e/ou nas articulações, diminuição da resistência
muscular, alterações funcionais e atrofia muscular.
- Deverão ser excluídas outras patologias que possam estar na origem dos problemas mencionados.
- Uma sub-categoria da síndroma pós-pólio é a atrofia muscular progressiva da pós-pólio, que se define por um novo enfraquecimento progressivo e atrofia dos músculos com sinais clínicos ou sub-clínicos de denervação ou reinervação compatíveis com a infecção aguda pelo vírus da poliomielite.
- Os sobreviventes da poliomielite podem experimentar um ou mais dos problemas anteriormente descritos, não devendo preocupar-se desnecessariamente em categorizar esses sintomas.
- Os sobreviventes da poliomielite podem, naturalmente, manifestar os mesmos problemas de saúde que a população em geral, problemas que podem exibir sintomas semelhantes aos da síndroma pós-pólio, enquanto outros podem ser ampliados devido à lesão neurológica causada pela infecção aguda do vírus da poliomielite.
A opinião consensual sobre as causas que originam os sintomas da
síndroma pós- - pólio concentra-se nas células nervosas e
correspondentes fibras musculares. Quando o vírus da poliomielite
danifica ou afecta os neurónios motores, as fibras musculares tornam-se
"órfãs", resultando na paralisia dos músculos. A recuperação de alguns
movimentos deve-se a um certo grau de regeneração das células nervosas,
enquanto que a subsequente recuperação dos movimentos é atribuída à
capacidade das células nervosas vizinhas não afectadas de se
"desenvolverem" e restabelecerem a ligação com os músculos "órfãos".
Após viverem anos com este sistema neuromuscular reestruturado, os
sobreviventes da poliomielite experimentam neste momento as
consequências, isto é, a sobrecarga das células nervosas que
sobreviveram e o uso excessivo dos músculos e articulações, combinado
com os efeitos do envelhecimento. Se bem que continuam os estudos para
determinar a existência de uma causa viral, não existem ainda conclusões
que sustentem a tese de que a síndroma pós-pólio resulta de uma
re-infecção do vírus da poliomielite.
Os primeiros passos na prevenção e acompanhamento .
Os sobreviventes da poliomielite devem ser avaliados por um médico
de clínica geral, sendo de seguida objecto de uma avaliação
especializada neuromuscular por um especialista experiente em
poliomielite, a fim de estabelecer as suas condições físicas, permitindo
avaliar alterações futuras e elaborar um programa de tratamento
apropriado. A International Polio Network publica anualmente uma lista
de clínicas e de profissionais de saúde especializados no acompanhamento
de pessoas sobreviventes da poliomielite.
Os sobreviventes da poliomielite devem, em primeiro lugar,
manter-se atentos aos cuidados de saúde primários, procurando
assistência médica periódica. Deverão ser cuidadosos com a sua
alimentação, evitarem ou diminuírem o excesso de peso, deixarem de fumar
ou de beber bebidas alcoólicas.
Os sobreviventes da poliomielite devem manter-se atentos ao seu
próprio corpo. Devem evitar actividades que possam causar dor - a dor é
um sinal de aviso. Devem evitar tomar analgésicos com frequência,
particularmente narcóticos. Não devem usar os músculos de forma
excessiva, devendo manter uma actividade regular que não agrave os
sintomas. Sobretudo, não devem manter actividades físicas que sejam
acompanhadas por dores. Devem evitar as actividades que, após um período
de dez minutos, provoquem a fadiga.
Os sobreviventes da poliomielite que manifestem alguns dos sintomas
acima descritos deverão manter uma disciplina nas suas actividades
diárias, descansando sempre que necessário, fazendo períodos de repouso
de 15 a 30 minutos sempre que sintam essa necessidade, várias vezes ao
dia. A gestão das suas actividades pode incluir uma maior utilização de
equipamentos compensatórios. Recomenda-se também, sempre que necessário,
a mudança de aparelhos ortopédicos.
Os sobreviventes da poliomielite devem procurar o máximo de
informação. O International Polio Network, através de conferências e
publicações tais como o Manual Acerca dos Efeitos Tardios da Poliomielite, para Médicos e Sobreviventes e a Post-Polio Health,
disponibiliza informações rigorosas e relevantes. Uma outra forma de
obter informações é através do estabelecimento de contactos com outros
sobreviventes da poliomielite. O Post-Polio Directory contém uma lista com mais de 300 grupos privados de apoio de todo o mundo.
A Post-Polio Health International (PHI), é uma rede de apoio sem
fins lucrativos que tem por principal objectivo fornecer informações de
relevância relativamente aos efeitos tardios da poliomielite. O PHI,
fundado por Gini Laurie, é conhecido desde 1958 pelo seu trabalho em
rede, o que lhe valeu a reputação de "factor unificador entre os
sobreviventes da poliomielite de todo o mundo". O PHI também é
responsável pela publicação de um boletim, Ventilator-Assisted Living, destinado às pessoas que necessitam de utilizar um ventilador, para além de publicar a Rehabilitation Gazette.
Todas as dúvidas e perguntas serão sempre bem-vindas.
Joan L. Headley, Directora Executiva
Post-Polio Health International (PHI)
director@post-polio.org
www.post-polio.org
Post-Polio Health International (PHI)
director@post-polio.org
www.post-polio.org
Associação Pós-Pólio de Portugal
Apartado 2002
7001-901 évora
Portugal
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7001-901 évora
Portugal
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