28 março 2017

Brasileiro com síndrome pós-pólio agradece governo japonês após ganhar cadeira de rodas elétrica.

OSNY ARASHIRO /ALTERNATIVA Online


Hamamatsu - Após passar por uma bateria de exames médicos e comprovar que a sua poliomielite, adquirida aos seis meses de vida, evoluiu na vida adulta para a síndrome pós-pólio (SPP), o brasileiro Antonio (nome fictício) recebeu do governo da província de Aichi uma cadeira de rodas elétrica, sem nenhum custo. 
Síndrome pós-pólio é a consequência da vítima da poliomielite (paralisia infantil) evoluída para um quadro mais grave, anos depois de adqurida. Por pensar que a pólio estacionou, justamente a SSP é de difícil diagnóstico e foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde somente em 2009, que a incluiu no CID – Código Internacional de Doenças. 
Por desinformação, muitos médicos diagnosticavam erroneamente. Foi o caso do Antonio. A partir de 2014, ele começou a sentir fortes dores no braço direito e formigamento. A princípio, o médico dizia que era devido ao uso da muleta. Acometido da pólio na perna direita, como poderiam imaginar que iria evoluir para o braço direito, quatro décadas depois?
Porém, ciente da existência da SPP, Antonio começou a se informar pois ele também pouco conhecia sobre esse mal. Lendo muito sobre as informações do neurologista Acary Souza Bulle Oliveira, de São Paulo, Antonio decidiu também consultar um neurologista em Aichi, ao inteirar-se de alguns dos principais sintomas descritos na literatura médica, sobre a SPP: 
- Fraqueza muscular nos músculos afetados pela poliomielite ou em partes não atingidas previamente;
- Dores nas articulações e músculos;
- Fadiga;
- Intolerância ao frio;
- Dificuldades respiratórias;
- Problemas para dormir. 
No dia 30 de junho de 2014, Antonio foi pela primeira vez consultar um neurologista para verificar a possibilidade de estar com SPP. Foram muitas consultas. 
Um aparelho interligou vários fios no braço com um computador para acusar o nível de ondas magnéticas e o grau de sensibilidade dos nervos. Fez exame de sangue e extraiu líquido da coluna cervical. 
Mediu também a força do braço e da mão com um dinamômetro e o resultado foi de 28 quilograma-força no braço esquerdo e 5 quilograma-força no direito. "Não consigo nem usar uma tesoura com a mão direita", afirma Antonio. 
Somente em agosto de 2016 saiu o laudo médico, confirmando que Antonio era portador de SPP (em japonês, Posuto Porio Shokogun). Ele recebeu nova carteira de deficiente físico, passando do grau 3 para 2. 
Prestes a completar 46 anos de idade, praticamente levou os mesmos 46 anos para diagnosticar ser portador da Síndorme Pós-Polio, uma vez que contraiu a poliomielite com seis meses de vida. 
Em seu retorno ao hospital para consultas de rotina, foi aconselhado pelo médico a usar uma cadeira de rodas, para economizar energia ao se movimentar, pois a SPP não estaciona e pode evoluir mais. 
Na maneira antiga da orientação médica, o ideal para o portador da paralisia infantil era fortalecer os músculos praticando atividades físicas e fisioterapia. Entretanto, com a descoberta da SPP, as atividades físicas, pelo contrário, devem ser reduzidas ao máximo, para economizar energia muscular do corpo. 
Esse foi o motivo explicado pelo médico para Antonio utilizar uma cadeira de rodas, embora ele não seja uma pessoa inválida. 
A princípio, Antonio recusou a cadeira de rodas. Até porque, pensava que teria de comprar de bolso próprio. O médico lhe explicou que ele tinha direito a receber do governo da província uma cadeira de rodas sem custos nenhum. Mesmo assim, foram necessários seis meses para mudar de ideia, após vários conselhos médicos. Quando Antonio concordou, seu médico o transferiu para o setor de fisioterapia tirar as medidas para confecionar uma cadeira de rodas. 

QUESTÕES BUROCRÁTICAS
Com o laudo médico e a solicitação da cadeira de rodas, Antonio deu entrada à requisição no Fukushika – a Divisão de Bem Estar Social, setor de Deficientes Físicos. 
Com a administração municipal não teve problema nenhum. Difícil foi convencer os encarregados do governo da província. Chamado para entrevista, Antonio teve que explicar as razões para utilizar uma cadeira de rodas elétrica e não manual. 
Ele explicou que justamente para poupar energia muscular, deveria usar cadeira de rodas elétrica. Se fosse manual, seu esforço físico seria bem maior, teria de conduzí-la com as próprias mãos e o seu braço direito não tinha forças. 
Antonio percebeu que eles queriam "empurrar-lhe" uma cadeira manual por ser mais barata. Mediante tantas barreiras burocráticas, perdeu a paciência e mandou os encarregados da província estudarem mais sobre doenças: "Vocês que lidam com portadores de deficiências físicas, desconhecem os problemas da síndrome pós-pólio? Vocês precisam estudar mais!"
Os médicos – neurologista e fisioterapeuta - também foram questionados pelo órgão da província, para explicar quais as razões da necessidade de uma cadeira de rodas elétrica e não manual. Vencidas essas burocracias, concordaram em conceder o benefício. 
A cadeira de rodas elétrica ficou pronta e no dia 1º de março ele foi retirá-la no hospital.
Apesar das dificuldades em ser reconhecido como portador de SPP para receber sua cadeira de rodas elétrica, Antonio faz questão de manifestar seu agradecimento ao governo do Japão por esse benefício recebido. 
Ele prefere não revelar o preço de uma cadeira de rodas elétrica, mas afirma ser cara. Também foi preciso comprovar baixa renda mensal e esclarece que não é somente o portador de SPP que tem direito a receber esse benefício. Cada caso é um caso e o interessado deve esclarecer suas dúvidas no setor de Deficiente Físico, no Fukushika da prefeitura local. 

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