Hamamatsu - Após passar por uma bateria de exames médicos e
comprovar que a sua poliomielite, adquirida aos seis meses de vida,
evoluiu na vida adulta para a síndrome pós-pólio (SPP), o brasileiro
Antonio (nome fictício) recebeu do governo da província de Aichi uma
cadeira de rodas elétrica, sem nenhum custo.
Síndrome
pós-pólio é a consequência da vítima da poliomielite (paralisia
infantil) evoluída para um quadro mais grave, anos depois de adqurida.
Por pensar que a pólio estacionou, justamente a SSP é de difícil
diagnóstico e foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde somente
em 2009, que a incluiu no CID – Código Internacional de Doenças.
Por
desinformação, muitos médicos diagnosticavam erroneamente. Foi o caso
do Antonio. A partir de 2014, ele começou a sentir fortes dores no braço
direito e formigamento. A princípio, o médico dizia que era devido ao
uso da muleta. Acometido da pólio na perna direita, como poderiam
imaginar que iria evoluir para o braço direito, quatro décadas depois?
Porém,
ciente da existência da SPP, Antonio começou a se informar pois ele
também pouco conhecia sobre esse mal. Lendo muito sobre as informações
do neurologista Acary Souza Bulle Oliveira, de São Paulo, Antonio
decidiu também consultar um neurologista em Aichi, ao inteirar-se de
alguns dos principais sintomas descritos na literatura médica, sobre a
SPP:
- Fraqueza muscular nos músculos afetados pela poliomielite ou em partes não atingidas previamente;
- Dores nas articulações e músculos;
- Fadiga;
- Intolerância ao frio;
- Dificuldades respiratórias;
- Problemas para dormir.
No
dia 30 de junho de 2014, Antonio foi pela primeira vez consultar um
neurologista para verificar a possibilidade de estar com SPP. Foram
muitas consultas.
Um aparelho interligou
vários fios no braço com um computador para acusar o nível de ondas
magnéticas e o grau de sensibilidade dos nervos. Fez exame de sangue e
extraiu líquido da coluna cervical.
Mediu
também a força do braço e da mão com um dinamômetro e o resultado foi de
28 quilograma-força no braço esquerdo e 5 quilograma-força no direito.
"Não consigo nem usar uma tesoura com a mão direita", afirma Antonio.
Somente
em agosto de 2016 saiu o laudo médico, confirmando que Antonio era
portador de SPP (em japonês, Posuto Porio Shokogun). Ele recebeu nova
carteira de deficiente físico, passando do grau 3 para 2.
Prestes
a completar 46 anos de idade, praticamente levou os mesmos 46 anos para
diagnosticar ser portador da Síndorme Pós-Polio, uma vez que contraiu a
poliomielite com seis meses de vida.
Em seu
retorno ao hospital para consultas de rotina, foi aconselhado pelo
médico a usar uma cadeira de rodas, para economizar energia ao se
movimentar, pois a SPP não estaciona e pode evoluir mais.
Na
maneira antiga da orientação médica, o ideal para o portador da
paralisia infantil era fortalecer os músculos praticando atividades
físicas e fisioterapia. Entretanto, com a descoberta da SPP, as
atividades físicas, pelo contrário, devem ser reduzidas ao máximo, para
economizar energia muscular do corpo.
Esse foi o motivo explicado pelo médico para Antonio utilizar uma cadeira de rodas, embora ele não seja uma pessoa inválida.
A
princípio, Antonio recusou a cadeira de rodas. Até porque, pensava que
teria de comprar de bolso próprio. O médico lhe explicou que ele tinha
direito a receber do governo da província uma cadeira de rodas sem
custos nenhum. Mesmo assim, foram necessários seis meses para mudar de
ideia, após vários conselhos médicos. Quando Antonio concordou, seu
médico o transferiu para o setor de fisioterapia tirar as medidas para
confecionar uma cadeira de rodas.
QUESTÕES BUROCRÁTICAS
Com
o laudo médico e a solicitação da cadeira de rodas, Antonio deu entrada
à requisição no Fukushika – a Divisão de Bem Estar Social, setor de
Deficientes Físicos.
Com a administração
municipal não teve problema nenhum. Difícil foi convencer os
encarregados do governo da província. Chamado para entrevista, Antonio
teve que explicar as razões para utilizar uma cadeira de rodas elétrica e
não manual.
Ele explicou que justamente para
poupar energia muscular, deveria usar cadeira de rodas elétrica. Se
fosse manual, seu esforço físico seria bem maior, teria de conduzí-la
com as próprias mãos e o seu braço direito não tinha forças.
Antonio
percebeu que eles queriam "empurrar-lhe" uma cadeira manual por ser
mais barata. Mediante tantas barreiras burocráticas, perdeu a paciência e
mandou os encarregados da província estudarem mais sobre doenças:
"Vocês que lidam com portadores de deficiências físicas, desconhecem os
problemas da síndrome pós-pólio? Vocês precisam estudar mais!"
Os
médicos – neurologista e fisioterapeuta - também foram questionados
pelo órgão da província, para explicar quais as razões da necessidade de
uma cadeira de rodas elétrica e não manual. Vencidas essas burocracias,
concordaram em conceder o benefício.
A cadeira de rodas elétrica ficou pronta e no dia 1º de março ele foi retirá-la no hospital.
Apesar
das dificuldades em ser reconhecido como portador de SPP para receber
sua cadeira de rodas elétrica, Antonio faz questão de manifestar seu
agradecimento ao governo do Japão por esse benefício recebido.
Ele
prefere não revelar o preço de uma cadeira de rodas elétrica, mas
afirma ser cara. Também foi preciso comprovar baixa renda mensal e
esclarece que não é somente o portador de SPP que tem direito a receber
esse benefício. Cada caso é um caso e o interessado deve esclarecer suas
dúvidas no setor de Deficiente Físico, no Fukushika da prefeitura
local.
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