28 março 2017

Avaliação do gasto energético em indivíduos com síndrome pós-poliomielite - Avaliação do consumo energético dos indivíduos com síndrome pós-poliomielite



Roberto Dias Batista Pereira; Tatiana Mesquita e Silva; Abrahão Augusto Juviniano Quadros; Marco Orsini; Beny Schmidt; Helga Cristina Almeida Silva; Acary Souza Bulle Oliveira.

scielo.br



O objetivo deste estudo foi identificar o gasto energético, retrospectivamente, em indivíduos com síndrome pós-poliomielite (PPS) na população brasileira.
Métodos
Foi utilizado o questionário para avaliação da atividade física habitual (AFH) nos pacientes com PPS, sequela de poliomielite (SP) e grupo controle (GC). Participaram do estudo 116 indivíduos (PPS = 52, SP = 28, GC = 36).
Resultados
Pacientes com PPS tendem a aumentar a AFH dos 10 aos 20 anos, comparados com os grupos SP e GC. No período dos 21 aos 30 anos, houve aumento significativo da atividade física ocupacional do grupo PPS em relação ao grupo SP e atividade física ocupacional (21-30 anos) correlacionou-se com o aparecimento dos sintomas da PPS.
Conclusão
Pacientes com PPS apresenta maior gasto de energia durante uma vida, especialmente na atividade física ocupacional nas idades 21-30 anos, sugerindo que esta é uma crítica para o desenvolvimento da PPS.
Palavras-Chave: síndrome pós-poliomielite; Poliomielite; Metabolismo energético.
A síndrome pós-poliomielite (PPS) é um efeito tardio da poliomielite, classificada como neuronopatia motora, uma vez que os aspectos clínicos e histológicos estão intimamente relacionados à disfunção dos neurônios motores inferiores. A frequência de PPS varia de 22% a 80% em diferentes estudos internacionais. Um estudo brasileiro mostrou uma frequência de 77,2% em pacientes classificados como PPS, sendo 62,8% mulheres e 37,2% homens.
O PPS geralmente ocorre 30-50 anos após a infecção aguda da poliomielite. É caracterizada por novos sintomas ou piora de sintomas residuais anteriores, tais como: fraqueza nova, fadiga muscular, nova atrofia, dor muscular, dor nas articulações e intolerância ao frio. Atualmente, é reconhecida como uma entidade da doença definida pela Organização Mundial de Saúde, e está representada no Código Internacional de Distúrbios (ICD10 / G14).
Diferentes hipóteses têm sido propostas para a fisiopatologia do PPS, mas a mais aceita é a teoria do "overuse" (sobrecarga ou overtraining), proposta por Charcot  e defendida por outros.
A característica mais importante do PPS é o desenvolvimento de uma nova fraqueza muscular. Esta nova fraqueza pode ocorrer em músculos que já têm algum grau de fraqueza muscular ou músculos que foram previamente comprometidos, e posteriormente reinervados. Esta nova fraqueza inevitavelmente leva ao aumento do gasto energético para o desempenho da atividade física de rotina.
Alguns fatores de risco, como idade, gênero, severidade da paralisia, dor, intensidade do exercício muscular ou atividade física, podem contribuir para o desenvolvimento de PPS. As relações possíveis entre esses fatores e o metabolismo energético são de suma importância.
Diferentes métodos são utilizados para a avaliação subjetiva da atividade física habitual; A maioria deles é representada por questionários provenientes de estudos epidemiológicos. A avaliação da atividade física por questionário é um método que é influenciado principalmente pela capacidade das pessoas de se lembrarem.
O questionário de Baecke para a avaliação da atividade física habitual é um instrumento de recall fácil de aplicar e compreensível; É uma escala qualitativo-quantitativa e aborda aspectos como atividade física ocupacional, exercício físico em lazer e atividades de lazer e locomoção. Este instrumento tem sido utilizado em estudos epidemiológicos na população brasileira.
O objetivo deste estudo foi identificar o gasto energético, retrospectivamente, em indivíduos com PPS na população brasileira e verificar se a atividade física pode ser um fator predisponente para o desenvolvimento de PPS, ou piora dos sintomas do paciente.
MÉTODOS
Três grupos distintos de indivíduos foram avaliados: seqüelas de poliomielite (PS), PPS, e um grupo controle (CG). A população de interesse foi composta por pacientes com história de poliomielite paralítica submetidos a monitoramento ambulatorial na Unidade de Transtornos Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), no município de São Paulo, Brasil, e indivíduos saudáveis ​​(cuidadores de pacientes) , Entre os anos 2007-2009.
Os critérios de inclusão foram pacientes do sexo masculino e feminino com diagnóstico confirmado de pólio paralítico e PPS. Foram excluídos pacientes com idade superior a 60 anos e a presença de qualquer doença ou condição médica que pudesse levar à fraqueza muscular. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFESP e todos os pacientes envolvidos no estudo concordaram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Para avaliar a atividade física habitual, utilizamos o questionário de Baecke, que foi traduzido e validado em português por Florindo e Latorre.
O Baecke engloba três níveis de atividade física caracterizados por atividade física ocupacional (questões 1-8), exercício físico e atividades de lazer (perguntas 9-12), e atividades físicas de lazer e locomoção (questões 13-16), que compreendem a Avaliação da atividade física habitual. A pontuação total (TS) é a soma dos escores destes três níveis. As fórmulas para calcular o questionário Baecke foram:
TS = OPA + PEL + LLA
Vq = valor da pergunta
OPA = atividade física ocupacional
PEL = exercícios físicos em lazer
LLA = atividades físicas de lazer e locomoção
TS = pontuação total
O questionário de Baecke foi aplicado apenas uma vez aos três grupos (PS, PPS e CG), avaliando o histórico de atividade física ao longo da vida em períodos de 10-20 anos de idade, 21-30 anos de idade e nos últimos 12 meses, Excluindo as atividades ocupacionais no período de 10-20 anos, resultando em nove pontuações finais dos respectivos períodos.
Metodologia de aplicação dos questionários:
Para a classificação do gasto energético da atividade física ocupacional e os tipos de exercício que não estavam no perfil de padronização, utilizamos os estudos de Ainsworth et al. e McArdle et al. como referência. O primeiro estudo foi um esquema de codificação para a classificação do custo energético das atividades físicas humanas, e este propôs níveis de classificação do gasto energético humano da atividade física (baseado em um múltiplo da taxa metabólica em repouso).
Para a avaliação da fadiga, utilizamos a Escala de Gravidade da Fadiga. É composto de nove itens. Os indivíduos registram suas respostas de 1-7 (1 significa que discordam completamente e 7 indica que concordam inteiramente com a indicação). Esta escala avalia a queixa de fadiga nas duas semanas anteriores.
Também utilizamos a ferramenta abreviada de avaliação da qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde. Este questionário tem 26 perguntas, as duas primeiras são gerais e as outras 24 divididas em quatro domínios: físico (dom 1), psicológico (dom 2), relações sociais (dom 3), ambiente (dom 4) e global. Passos para verificar e limpar dados e computar facetas e resultados de domínio foram:
Recode q3 q4 q26 (1 = 5) (2 = 4) (3 = 3) (4 = 2) (5 = 1).
Calcula dom 1 = (média6 (q3, q4, q10, q15, q16, q17, q18)) * 4.
Calcula dom 2 = (média 5 (q5, q6, q7, q11, q19, q26)) * 4
Calcula dom 3 = (média 2 (q20, q21, q22)) * 4
Calcula dom 4 = (média 6 (q8, q9, q12, q13, q14, q23, q24, q25)) * 4
Calcular total = (média 2 (q1, q2)) * 4
As análises foram realizadas pelo software PRISM 3, comparando sua porcentagem por categoria, cálculo da média, mediana e desvio padrão.
Variáveis ​​contínuas com distribuição normal foram testadas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov.
A análise de variância (ANOVA) foi utilizada para comparar os grupos com dados paramétricos. Quando foram encontradas diferenças estatisticamente significantes, a análise foi complementada pelo teste de Tukey.
A análise de variância (Kruskall-Wallis) foi utilizada para comparar os grupos quando apresentados com dados não-paramétricos. Quando foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, a análise foi complementada pelo teste de Dunn.
A avaliação da correlação linear foi feita utilizando o coeficiente de correlação de Spearman (r). Para todos os testes, os resultados foram considerados estatisticamente significativos quando p <0,05.
RESULTADOS
Cento e dezesseis indivíduos participaram do estudo, 52 com PPS, 28 com PS e 36 no GC. A distribuição de gênero do CG foi de 19 mulheres (52,7%) e 17 homens (47,3%); No grupo PS: 17 mulheres (60,7%) e 11 homens (39,3%); E no grupo PPS havia 26 mulheres (50%) e 26 homens (50%).
A idade média para cada grupo foi: 42,86 ± 9,22 anos para o CG; 43,31 ± 6,91 anos para o grupo PS; E 43,83 ± 6,65 anos para o grupo PPS (variando de 30 a 59 anos). Medidas de tendência central e dispersão para variáveis ​​antropométricas, avaliadas por grupo, são apresentadas na Tabela 1 .
Tabela 1 Valores médios e desvios-padrão das características antropométricas dos grupos envolvidos no estudo.
Variável
CG (n = 36)
PS (n = 28)
PPS (n = 52)
Altura (cm)
170,5 ± 10,9 *
161,2 ± 8,0
163,4 ± 10,3
Peso (Kg)
74,6 ± 17,6
62,7 ± 15,8 **
68,7 ± 15,4
IMC (Kg / m2)
25,5 ± 4,1
23,8 ± 4,9
25,5 ± 4,1
Testar ANOVA (análise de variância de uma via); * P = 0,0007 vs PS e PPS; ** p = 0,0124 vs CG.
CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; IMC: índice de massa corporal.
A menor idade na qual a poliomielite aguda ocorreu foi de 23 dias e a maior foi de oito anos; A média foi de 19,71 meses (um ano e sete meses), com um desvio padrão de 16,8 meses (1,4 anos) e a mediana de 18 meses (nove e 24 meses). A idade média de início dos novos sintomas de PPS foi de 37,7 ± 6,3 anos (24-53 anos).
Na Escala de Gravidade da Fadiga, houve diferença significativa (p <0,0001) entre o CG (17,56 ± 11,4), o PS (27,29 ± 20,5) e o grupo PPS (51,48 ± 14,21). O grupo PPS apresentou maiores escores de fadiga, com 92,3% dos pacientes sendo classificados com fadiga. Por outro lado, nos grupos PS e PPS, não houve relação entre fadiga e outros critérios avaliados neste estudo (demográfico, antropométrico, história de poliomielite, qualidade de vida e gasto energético).
O grupo de pacientes com PPS apresentou índice de qualidade de vida significativamente pior nos domínios físico, psicológico e ambiental, quando comparado aos demais grupos (CG e PS). Não houve diferença no domínio das redes sociais ( Tabela 2 ).
Tabela 2 Classificação dos escores para cada grupo de domínios do WHOQOL-Bref.
Domínio WHOQOL
CG (n = 36)
PS (n = 28)
PPS (n = 52)
P-valor
Fisica
75,9 ± 14,3
67,9 ± 17,1
42,4 ± 16,5
<0,0001 a
Psicológico
73,6 ± 13,4
73,5 ± 15,6
59,3 ± 16,9
<0,0001 b
Relações sociais
74,6 ± 20,5
72,7 ± 21,1
67,8 ± 18,5
(Ns) 0,128
Meio Ambiente
66,1 ± 17,5
62,7 ± 17,0
56,7 ± 15,7
= 0,0312 c
Teste ANOVA (análise de variância de uma via) com o pós-teste de Tukey, diferença significativa: um grupo PPS vs PS e CG; Grupo B PPS vs PS e GC; C grupo PPS vs CG. CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; WHOQOL: Escala de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde.
O grupo PPS apresentou aumento no gasto energético em suas atividades ocupacionais (profissional), comparado ao grupo PS no período de 21 a 30 anos de idade.
* P <0,05 vs PS (Teste Kruskal-Wallis). CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; OPA: atividade física ocupacional.
Comparação longitudinal do período de 21 a 30 anos de idade entre CG, PS e PPS do escore OPA.
A atividade física ocupacional entre 21 e 30 anos mostrou correlações com outras variáveis ​​da pesquisa ( Tabela 3 ).
Tabela 3 Coeficientes de correlação de Spearman e valores de P entre a atividade física ocupacional (21 a 30 anos) e as variáveis ​​anos de estudo, poliomielite aguda e idade de início de novos sintomas.
Variáveis
Os coeficientes de correlação (r)
P-valor
Educação (anos de estudo)
- 0,3720
0,0066
Poliomielite aguda
- 0,2803
0,0390
Idade no início do PPS
- 0,2796
<0,0447
A Figura 3 mostra que o grupo PPS, durante a avaliação da atividade física realizada nos últimos 12 meses, apresentou menor gasto energético em todas as pontuações do Questionário Baecke de Atividade Física Habitual, em relação ao PS e CG.
CG: grupo de controlo; PS: seqüelas de poliomielite; PPS: síndrome pós-poliomielite; OPA: atividade física ocupacional; PEL: exercícios físicos em lazer; LLA: atividades físicas de lazer e locomoção; TS: pontuação total.
Figura 3 Comparação longitudinal do período dos últimos 12 meses entre CG, PS e PPS de OPA, PEL, LLA e Total Score (TS). Todas as análises foram realizadas usando o Kruskal-Wallis: * p <0,05 vs PS e GC.
DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi descrever o perfil do gasto energético utilizando o Questionário Baecke de Atividade Física Habitual, mostrando a relação entre atividade física habitual e o desenvolvimento de sintomas de PPS. Neste estudo, foi importante avaliar se a atividade física pode ser um fator predisponente para o desenvolvimento de PPS, ou piora de seus sintomas.
A fadiga foi encontrada com alta frequência afetando, em média, dois terços dos pacientes com PPS. Esse achado pode ser visto tanto em estudos nos Estados Unidos como em outros estudos brasileiros. O estudo de Conde et al. demonstraram que a fadiga em pacientes com PPS não está relacionada com a hora do dia (manhã ou à noite), mas com o tipo de atividade. Em nossa pesquisa, analisamos a história da atividade física, das profissões e dos esportes praticados e não encontramos relação com a variável fadiga. Isso pode ser explicado por duas hipóteses: a fadiga é um sintoma independente que merece manejo específico; Ou fadiga não é um bom marcador de PPS.
Os pacientes com PPS apresentaram baixa qualidade de vida em relação aos grupos PS e CG, principalmente nos domínios físico, psicológico e ambiental. A apresentação de novos sintomas por si só, é susceptível de levar a uma qualidade de vida prejudicada em comparação com os outros grupos.
Os três grupos (CG, PS e PPS) apresentaram um aumento gradual e significativo nos escores de atividade física ocupacional e escores totais nos três períodos analisados. Mas houve uma diminuição gradual e significativa ao longo dos anos nos escores de atividade física no lazer e atividade física no lazer e na locomoção, provavelmente devido a mudanças no estilo de vida, resultando em inatividade nas práticas esportivas de lazer.
Entretanto, no período clínico estudado (12 meses prévios), o agravamento clínico nos pacientes com PPS pode explicar por que eles não poderiam realizar atividades de lazer, ao contrário de falta de oportunidade, falta de desejo ou prazer ligado a outro fator. Tanto o grupo PS quanto o PPS tiveram história de seqüelas e incapacidades físicas, mas somente o grupo PPS mostrou uma diminuição significativa em todas as suas atividades físicas habituais (atividade física ocupacional, exercício físico e atividades de lazer e locomoção e escores totais) no período anterior 12 meses.
Por outro lado, os pacientes com PPS tiveram maior gasto energético na atividade física ocupacional, no período de 21 a 30 anos, o único fator que corrobora a hipótese de "uso excessivo".
Considerando que o PPS é uma doença com unidades motoras gigantes, o aumento do gasto energético em qualquer domínio do questionário de Baecke pode indicar uma sobrecarga em unidades motoras.
O grupo PPS apresentou correlação negativa entre atividade física ocupacional, de 21 a 30 anos de idade, e início de novos sintomas, indicando que a atividade física ocupacional (profissão) exercida nesse período é o fator que provoca a sobrecarga física Aparecimento de novos sintomas.
O grupo PPS também mostrou correlação negativa entre a atividade física ocupacional, de 21 a 30 anos, e o nível educacional, indicando que aqueles que realizaram mais atividade física em sua profissão nesse período tiveram baixo nível de escolaridade. Este achado indica que um alto nível de educação pode possivelmente ser um fator de proteção para PPS.
O grupo PPS mostrou uma correlação negativa entre a atividade física ocupacional, de 21 a 30 anos de idade e a idade da poliomielite aguda, indicando que os que tiveram poliomielite mais tarde tiveram menos gasto de energia em suas atividades ocupacionais no período. Portanto, a idade da infecção aguda pelo poliovírus afetou negativamente o desempenho do trabalho dos pacientes, corroborando a afirmação sobre a gravidade das sequelas e as perdas físicas desses pacientes com PPS.
Como este estudo foi realizado em um centro de pesquisa especializado em doenças neuromusculares, a busca pelos pacientes foi passiva e espontânea. Os pacientes avaliados foram aqueles com mais sintomas ou que tiveram alguma necessidade social e / ou legal. No entanto, mesmo utilizando um questionário como ferramenta de pesquisa, que permitiu a análise retrospectiva do gasto energético, os pacientes em questão não tiveram dificuldade em compreender e preencher o questionário, o que correspondeu a um período de estudo mais longo (mais de 15 anos de Estudo: PPS = 48%, PS = 28,6% e CG = 33,3).
O estudo de um perfil de gasto energético em indivíduos com antecedentes de poliomielite paralítica prévia mostrou que o PPS é uma condição nosológica com características próprias e o uso excessivo de unidades motoras durante a vida é um dos fatores causais; Está diretamente ligado ao gasto histórico de energia durante a vida; Os pacientes com PPS tiveram maior gasto energético, especialmente na atividade física ocupacional, entre 21 e 30 anos, sugerindo que esta década é crítica para o desenvolvimento desta condição; Atualmente, os pacientes com PPS têm status diferente em relação aos grupos PS e CG, com maior frequência de fadiga, escores mais baixos nas atividades físicas usuais e consequentemente pior qualidade de vida; O excesso de peso pode ser um fator agravante para o desenvolvimento ou intensificação dessas limitações.
Considerando que o PPS pode ter uma relação com maior atividade física em um dado período de vida e / ou aumento do metabolismo basal, pesquisas futuras são necessárias para comparar a Escala de Gravidade da Fadiga com as medidas metabólicas basais. 


Universidade Federal de São Paulo, Setor de Investigação nas Doenças Neuromusculares, São Paulo SP, Brasil; Centro Universitário Augusto Motta, Mestrado em Ciências da Reabilitação, Bonsucesso RJ, Brasil; Universidade Severino Sombra, Mestrado em Ciências Aplicadas a Saúde, Vassouras RJ, Brasil; Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Anestesiologia, São Paulo SP, Brasil. 

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-282X2017000300147&script=sci_arttext



05 agosto 2016

SÍNDROME PÓS POLIOMIELITE: Silêncio de 36 anos a quem interessa?

SÍNDROME PÓS POLIOMIELITE: Silêncio de 36 anos a quem interessa?: Poliomielite Irresponsável, manipulação dos Dados Organização Mundial da Saúde. Resultado, milhares de brasileiros acometidos pela Sínd...

Silêncio de 36 anos a quem interessa?



Poliomielite Irresponsável, manipulação dos Dados Organização Mundial da Saúde. Resultado, milhares de brasileiros acometidos pela Síndrome Pós Poliomielite (SPP) ou Sequela Pós-Poliomielite. 

Denunciada manipulação de dados a respeito da poliomielite no Brasil, entre 1969 a 1973. Negligência que resultou em 63% de vitimas infectadas com o vírus da pólio. Para aqueles não familiarizados com o assunto, devo esclarecer que a vacina contra a poliomielite (também chamada de pólio ou paralisia infantil termo deriva do grego poliós, que significa "cinza", myelós "medula") estava operacional em território Brasileiro desde 1962 para a rede pública de saúde.
Esta noticia foi publicada em 06 de março de 1980, pelo Jornal Folha de São Paulo: “O governo Médici teria manipulado” dados referentes às condições de saúde no Brasil. A declaração, feita na época pelo Médico, Cientista e Pesquisador ALBERT BRUCE SABIN em entrevista concedida na presença dos Ministros Valdir Arcoverde e Jair Soares, respectivamente da Saúde e da Previdência Social, refere-se a RELATÓRIOS encaminhados à Organização Mundial da Saúde e que teriam apresentando estatísticas duvidosas”.
Vale ressaltar a inexistências de Dados Estatísticos referentes às Pessoas que foram acometidos pela poliomielite na infância, não sabemos até hoje com exatidão quantas crianças desenvolveram a doença em território nacional principalmente entre 1969 e 1973.
“Para uma população já anestesiada por tantas notícias sobre manipulação de índices oficiais, a declaração talvez não tenha tido a repercussão merecida. A gravidade da informação do Professor ALBERT SABIN, contudo, ultrapassa os limites do rotineiro. Após afirmar que a redução dos índices, no período de 1969 a 1973, anunciada pelo governo brasileiro, era incorreta, o cientista ressaltou o que chama de POLIOMIELITE IRRESPONSÁVEL. Ou seja, a manipulação dos dados não teve apenas por consequência, se é que teve, a modificação da imagem do Brasil perante os órgãos internacionais, que acreditaram, então, no progresso de nossas condições de saúde. Muito mais do que isto, os falsos Índices impediram, naquela época, uma campanha séria de combate à POLIOMIELITE. Como resultado temos crianças nascidas entre 1969 a 1973 portando sequelas físicas que poderiam ter sido evitadas, fosse outro o comportamento do governo. Ninguém desconhece que, em política,  as versões são às vezes mais importantes do que os fatos e que a manipulação de dados é um instrumento de grande força na luta pelo Poder. Faz parte da vida política esta capacidade de construir imagens favoráveis, escondendo alguns aspectos, ressaltando outros. Mas superestimar esta capacidade, tolerando a negação ou a distorção mentirosa dos fatos, é pervertê-la. Assim, quando um grupo político adere à falsidade organizada, escondendo dados importantes, proclamando milagres que não existem, então a linha divisória entre a atividade política e a sua perversão estará sendo transposta”.
“Mas chama-se  também ao banco dos réus o Administrador Irresponsável, cuja conduta, desgraçadamente, foi tão leviana quanto lesiva aos interesses do Pais e seus Cidadãos. 
O resultado deste silencia ecoa em milhares de Brasileiros Acometidos pela Poliomielite na Infância, que suplantaram uma dolorosa reabilitação em decorrência de sequelas deixadas pela doença, e por um preconceito social silencioso, onde lhes era colocado que sem dor não haveria recuperação.
Em decorrência da Negligencia do Passado o resulto no presente chama–se Síndrome Pós-Poliomielite (SPP) ou Sequela Pós-Poliomielite é uma doença do neurônio motor de caráter degenerativo e progressivo. Embora não se conheça totalmente a etiologia, a causa mais aceita é a degeneração das unidades motoras remanescentes, algumas gigantes (grande número de fibras musculares inervadas pelo mesmo neurônio motor), formadas após a fase aguda da poliomielite. A SPP é definida por um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem, geralmente, após 30 a 50 anos, no mínimo 15 anos após a infecção aguda da poliomielite. Caracterizada, principalmente, por três sintomas principais: nova fraqueza muscular, fadiga e dor. A nova fraqueza muscular, afeta geralmente os músculos previamente mais comprometidos, mas também pode afetar a musculatura aparentemente normal, estando acompanhada ou não de fadiga e dor muscular e/ou articular.
Outros sintomas que podem estar presentes são: nova atrofia muscular; disfonia; disfagia; insuficiência respiratória; transtorno urinário e fecal, transtornos do sono associado ou não de cefaleia matinal; aumento de peso corporal; intolerância ao frio; ansiedade; depressão; problemas de memória.
Aqui fazemos um alerta, a Sombra da Poliomielite vai continuar por décadas, tendo um pedágio significativo sobre a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas.  A situação atual e as necessidades futuras são ainda desconhecidas. Suas vidas serão limitadas e não por sua deficiência, mas nas ramificações desta deficiência, o estigma, a marginalização social e barreiras para recursos, tais como assistência médica, educação, acessibilidade e assistência social, que irá resultar para muitos em pobreza, falta de escolha e a negação dos direitos humanos fundamentais, para maximizar a saúde de forma mais eficaz aos Sobreviventes da Pólio – Síndrome Pós Pólio e bem-estar, promovendo uma maior participação e inclusão social.
A erradicação da Poliomielite e da Síndrome Pós-Poliomielite é um campo de provas, um teste. Ele vai revelar o que os seres humanos são capazes de fazer, e sugerir como ambicioso que pode ser o nosso futuro. No entanto, argumenta-se que esta afirmação é igualmente relevante para aqueles enfrentando as consequências Incapacitantes da Poliomielite – Síndrome Pós Poliomielite. A batalha contra a Poliomielite - Síndrome Pós Poliomielite não será vencida até que a comunidade global possa garantir aqueles que vivem com as consequências Incapacitantes da Poliomielite – Síndrome Pós Poliomielite que suas necessidades serão atendidas e os recursos serão disponibilizados para que possam funcionar plenamente e livremente nas sociedades em que vivem - agora e nas décadas que virão.
Uma sociedade que negligência seu passado, ameaça seu futuro.  
Nilson Roberto dos Santos – Paciente diagnosticado com Síndrome Pós Poliomielite

03 julho 2016

Poliomielite: várias histórias da doença e de seus efeitos tardios.



Proteger uma criança da pólio é tão fácil quanto protegê-la da chuva: trata-se de colocá-la sob o equivalente médico de um guarda-chuva. Kofi Annan (Salgado, 2003).
Ao discutir a luta contra a poliomielite no Brasil, a obra A história da poliomielite, organizada pela pesquisadora da Fiocruz Dilene Raimundo do Nascimento, traz alguns capítulos sobre o enfrentamento da doença no Peru (Marcos Cueto et al.), Portugal (Inês Santos), Espanha (Juan Rodríguez Sánchez) e Paquistão (José Verani). No Brasil (Dilene Nascimento, André Campos, Ângela Pôrto) e nos outros países, o livro aborda, entre vários temas, as questões correlatas de “controle e erradicação” da pólio, a evolução das campanhas e dos resultados obtidos, os distintos contextos sanitários e a eficácia ou o fracasso das políticas sanitárias postas em prática em cada país.
Dividido em quatro partes, o livro constrói uma narrativa histórica e analítica do ambiente da saúde nacional e internacional do pós-Segunda Guerra Mundial. Chama a atenção para a formulação e execução de políticas de saúde que foram postas em ação e que tinham como meta a erradicação da doença – as estratégias nacionais de combate; o desenvolvimento de técnicas laboratoriais para diagnóstico; as campanhas de vacinação, que buscavam mudar o quadro da poliomielite no Brasil e no mundo.
Os debates tiveram início nas primeiras décadas do século XX, quando a enfermidade passou a se manifestar sob forma epidêmica em várias partes do mundo. A epidemia assolou tanto países ricos, como os EUA, a Inglaterra e a Suécia, quanto países periféricos, como a Índia, a Somália, a República Democrática do Congo, o Paquistão e o Sudão. Cada vez mais incontrolável e destrutiva, fazia vítimas fatais e deixava milhares de crianças e adultos paralisados.
Médicos e autoridades sanitárias desconheciam por que caminhos a pólio se disseminava: os caminhos eram difíceis de ser previstos; a doença, difícil de ser evitada e de ser tratada de forma eficiente. A partir de 1950 surgem novas tecnologias de controle e erradicação da doença, além da descoberta das vacinas Salk (em 1955) e Sabin (em 1961). A obra sugere que o trabalho desses cientistas e de seus companheiros, bem como dos que os antecederam nas primeiras pesquisas com o vírus, conduzidas a partir do início do século XX, foram fundamentais na luta pela erradicação, em várias partes do mundo.
Desde os primeiros estudos a seu respeito, a poliomielite constituiu um ponto de interrogação para as autoridades sanitárias em todo o mundo. Interessante é o depoimento do médico João Risi, segundo o qual, quando as condições sociais são precárias, a criança mais cedo exposta ao vírus dificilmente assume a forma paralítica da doença. O contato precoce garante maior possibilidade de desenvolvê-la em sua forma benigna, ficando menos suscetível às manifestações neurológicas da doença.

Diante das incertezas que a pólio impunha sobre o conhecimento médico, da diversidade de modelos e de terapias pouco eficazes, era frequente a atitude de “negação”, pelas autoridades médicas e sanitárias de alguns países, o Brasil entre eles, da existência de epidemias de poliomielite. Os capítulos assinados por Sánchez e Campos trazem, a propósito, noticiários e manchetes em jornais e revistas que indicam a desinformação, as “responsabilidades não assumidas”, a insistência sobre a “não existência” de epidemia de pólio.
A poliomielite no Brasil
Temas como os mencionados nos parágrafos anteriores são a primeira pista, para o leitor, da relevância da obra. A apresentação cuidadosa, pela organizadora, traça o plano geral do livro. A história da poliomielite, em sua primeira parte, é dividida em cinco capítulos sobre a trajetória da doença no Brasil, que focalizam o desenvolvimento e a legitimação das políticas públicas de controle. Os autores discutem os modelos científicos explicativos da pólio, o debate e as controvérsias no país, os surtos epidêmicos em vários estados, as vantagens e desvantagens das vacinas, as campanhas de vacinação e os dilemas dos cientistas brasileiros em relação à descrição clínica da doença.
O trabalho de André Campos, que abre o volume, investiga as primeiras epidemias que ocorreram no Rio de Janeiro, em 1911, e em São Paulo, em 1917; apresentam-se os diferentes modelos científicos explicativos da doença, em especial, as discordâncias entre Fernandes Figueira e Francisco de Salles Gomes Júnior no tocante à descrição clínica e ao tratamento mais adequado. Nas décadas de 1930 e 1940 foram registrados surtos na capital federal e nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina; no Nordeste e Norte, foram atingidos a Bahia, Sergipe, Maranhão, Piauí e Amazonas. Neste período, a doença não havia recebido no Brasil a atenção que despertava em outros países, como nos EUA, Inglaterra e Suécia, com centenas de vítimas de pólio e de paralisia.
Chamava atenção a incapacidade da medicina de dar uma resposta eficaz ao problema e à forte influência do modelo de contágio direto para a pólio, dominante durante os anos de 1930 e 1940. De acordo com esse modelo, diz o autor, a pólio era transmitida por via respiratória – secreções nasais e bucais. Seu modo de transmissão era típico, portanto, das doenças respiratórias – o vírus penetrava pelas vias aéreas superiores e viajava diretamente para o sistema nervoso central, provocando uma paralisia flácida aguda em membros inferiores, com perda parcial ou total da capacidade de contração do músculo. Contudo, os avanços da virologia e o surgimento do microscópio eletrônico possibilitaram uma compreensão mais ampla da doença. No final dos anos de 1940 a pólio passou a ser vista não mais como doença neurológica e sim entérica, isto é, o vírus se multiplicava no trato gastrointestinal, e a infecção podia ser transmitida pela via fecal-oral.
O capítulo 2, que traz uma interessante discussão histórica sobre o desenvolvimento de vacinas, por Eduardo Ponce Maranhão, não focaliza o cenário brasileiro, apesar de constar da Parte 1 sobre o Brasil. Neste capítulo, o autor indica que a eficácia dos tratamentos dependia dos avanços científicos, que levariam à descoberta das vacinas Salk e Sabin, e dos ensaios e estudos de campo conduzidos em vários países em busca de medidas apropriadas para o isolamento dos vírus. Maranhão discute um capítulo fundamental da história da pólio no mundo: as pesquisas com cultura de tecido. Em 1949, cientistas dos EUA descobrem uma nova técnica para cultivar o vírus em tecidos mais simples (embriões de galinha) e não apenas em macacos. Em 1953 Jonas Salk anuncia as primeiras experiências de sua vacina em humanos com resultados positivos, e no ano seguinte a vacina é testada em grande escala. Em 1957 realiza-se o primeiro ensaio de campo com a vacina Sabin oral, em Cingapura. A vacina oral contra a pólio foi obtida a partir de um vírus vivo, diferentemente da vacina Salk, baseada em uma cepa morta do vírus. No Brasil, a vacinação pela vacina Salk é introduzida em 1955, em São Paulo e, no ano seguinte, no Rio de Janeiro. Em 1953, a epidemia atinge fortemente a capital federal.
É importante ressaltar que as ações de combate, iniciadas nos finais dos anos de 1950 no Brasil, se intensificaram nos anos de 1970 com o surgimento do Plano Nacional de Controle da Poliomielite estabelecido pelo Ministério da Saúde. Contudo, foi na década de 1980 que houve uma mudança de estratégia, de “controle”, para uma política de “erradicação” da poliomielite. Os anos 1980 marcam o processo de abertura política e da luta pela implantação de mudanças sociais. Na área da saúde, discute-se um novo modelo de atenção, mais abrangente, com a participação da comunidade em todos os níveis de governo, melhorando o acesso das populações menos favorecidas à saúde. A saúde passa a ser vista como uma questão social, o controle da poliomielite a inserir-se no movimento pela reforma sanitária. Alguns desses marcos históricos foram discutidos por Dilene Nascimento. A autora analisa o processo político na área da saúde, com base em seis marcos fundamentais: a introdução da vacina Sabin em 1961; o diagnóstico laboratorial do poliovírus, em 1961; o Plano Nacional de Controle da Poliomielite, em 1971; a implantação do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, em 1975; os Dias Nacionais de Vacinação, em 1980, e a estratégia de erradicação da doença a partir de 1985.
A pólio produz repercussões na construção da identidade individual dos atingidos que precisam enfrentar as sequelas, sobretudo o estigma, ao longo de suas vidas. O trabalho de Ângela Pôrto reúne três depoimentos de mulheres com sequelas motoras graves, que contraíram a doença nos anos de 1950. O recurso às fontes orais permite recuperar vivências e memórias da doença, dando voz aos enfermos. Crescem o interesse pelos aspectos do cotidiano do indivíduo ou de grupos específicos e o conhecimento das experiências individuais, das estratégias de enfrentamento da doença e de suas sequelas. Busca-se pensar a doença, ou o doente, dentro do seu contexto sociocultural; qual a percepção dos indivíduos sobre sua saúde, considerada nos valores dentro dos quais vive? Quais são os limites impostos pela doença e os efeitos na sua vida diária? Os depoimentos recuperam a memória e reconstroem as identidades dessas pessoas, diz a autora; a doença não pode mais ser discutida como um evento médico, mas sim como um acontecimento social.
O último capítulo da primeira parte do livro, também organizado por Ângela Pôrto, reúne algumas imagens das campanhas do Ministério da Saúde, especialmente os Dias Nacionais de Vacinação, instituídos em 1980. Esse material, coletado pela autora, mostra mudanças, ao longo dos anos, no tipo de mensagem que se queria fixar em relação à doença e ao portador de deficiência.
A poliomielite fora do Brasil
A segunda parte do livro, dividida em quatro capítulos, reúne artigos sobre o controle e erradicação da poliomielite em outros países. Intitulada “A poliomielite na América Latina, Europa e Ásia”, talvez venha a sugerir ao leitor um cenário mais amplo do que aquele focalizado pelos capítulos, restritos na verdade a poucos países. Isso não impede que se note a relevância dos estudos de caso expostos. Na apresentação do livro, há menção à “novidade incomum” de a obra vir a “possibilitar análises histórico-comparadas de outras experiências nacionais”. Aqui há controvérsia. Os casos nacionais, trabalhados sem preocupação metodológica com a análise comparativa, dificilmente permitem ao leitor estabelecer contrastes ou semelhanças. Talvez a ausência de tal esforço comparativo na própria apresentação feita por Nascimento revele a dificuldade de se encontrar no texto a “novidade incomum”. O único esforço comparativo digno de nota está no texto de Nascimento e colaboradores sobre o processo de erradicação da pólio no Brasil e no Peru, nos anos de 1980, com ênfase nos contextos políticos, sociais e sanitários. Os autores indicam que, diferentemente do Brasil, onde o movimento social pela reforma sanitária, inaugurado nos anos de 1970, vinha reivindicando a participação da comunidade (ainda que com imensas dificuldades e limitações de toda sorte, acrescentamos), no Peru não se assistia a iniciativas de estímulo à participação ou envolvimento da população.
Inês Guerra, em estudo sobre a experiência portuguesa, mostra como a doença foi negligenciada durante várias décadas pelas autoridades sanitárias e políticas. Segundo a autora, o elevado número de mortes e de crianças e jovens incapacitados pela doença não foi suficiente para que a poliomielite fosse considerada oficialmente um problema de saúde pública. Contudo, o trabalho discute uma iniciativa importante, representada pelo Refúgio da Paralisia Infantil, fundado em 1926, pelo médico neurologista Henrique Gomes D’Araújo, destinado à assistência e ao tratamento gratuito de crianças pobres da cidade do Porto, na época, uma das cidades mais insalubres de Portugal. Embora dependente de contribuições externas para manter tratamentos gratuitos, o Refúgio contava com uma estrutura na qual funcionava, além do Serviço de Fisioterapia, a Hidroterapia, a Recuperação Funcional e a Cirurgia Ortopédica.
Juan Sánchez discute as “responsabilidades não assumidas” pelo Estado espanhol em relação à erradicação da poliomielite no país, nos anos de 1950 e 1960. Lembra que no pós-guerra tanto Portugal quanto a Espanha eram países com governos ditatoriais e de tradição confessional católica, “dois elementos determinantes da sua resistência a conceber saúde e assistência em termos de direito” (p.195). Essas características se concretizaram em campanhas de vacinação tardias, pouco difundidas e sem a eficácia esperada. Além disso, lembra o autor, a vacina não era oferecida gratuitamente à população, logo não podia tornar-se obrigatória. Minimizava-se a importância do problema, criavam-se dúvidas sobre a eficácia da vacina e negava-se a gravidade e existência de surtos epidemiológicos – para o Estado a vacina “não era necessária”. “Repressão e autocensura se aliaram para minimizar o problema sanitário” (p.206). Mas, diferentemente de outras doenças como a cólera ou a gripe espanhola, a poliomielite tinha como consequência sequelas paralíticas visíveis para a população, que desafiavam qualquer ocultação ou negação de seus efeitos.
O Paquistão é também um caso de ações tardias de combate à poliomielite. Lá, todas as atividades de erradicação tiveram o apoio financeiro de organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde e o Fundo das Nações Unidas para a Infância e não governamentais, como o Rotary Internacional. Nos anos de 1980 tiveram início as primeiras campanhas, a partir da criação do Programa Ampliado de Imunização – BCG, pólio oral, DTP e antissarampo. Os postos e centros de saúde desempenharam papel de destaque na oferta de vacina de forma rotineira. Em 1994 foi organizada a primeira Campanha Nacional de Vacinação Antipólio. Segundo Verani, entre os anos de 1994 e 2000, durante o governo talibã, as campanhas não conseguiram atingir a cobertura esperada pelas autoridades sanitárias, em função do caráter localizado dos programas. Além disso, os fluxos de refugiados, as fronteiras tensas entre Afeganistão, Irã, Índia e China e a própria cultura islâmica fundamentalista, dificultando a acesso às mães pelas equipes de saúde pública, constituíram barreiras para a erradicação da doença.
Os efeitos tardios da poliomielite: “uma nova doença velha”
A terceira parte do livro, dividida em dois capítulos, discute a síndrome pós-poliomielite (SPP), um dos efeitos tardios da poliomielite, que compreende um conjunto específico de novos problemas de saúde originados pelo vírus da pólio e que vem atingindo pessoas acometidas pela doença décadas atrás. No final dos anos de 1970, os sobreviventes começaram a sofrer novos problemas, tais como fadiga, dor e fraqueza, resultando na diminuição da capacidade funcional e/ou no surgimento de novas incapacidades. Em função do aumento de números de casos da SPP no Brasil e do escasso conhecimento, pela comunidade médica, acerca dos efeitos tardios da pólio, a Associação Brasileira de Síndrome Pós-poliomielite (Abraspp) luta para que se estabeleçam políticas públicas que beneficiem aqueles com sequelas da pós-pólio.
O capítulo dez, sobre a conceituação e aspectos clínicos da SPP, contou com a participação de profissionais do Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)/Escola Paulista de Medicina (EPM). É importante destacar que a primeira linha de pesquisas sobre as características clínicas da SPP, teve início em 2003, sob a coordenação do fisioterapeuta Abrahão Augusto Juviniano Quadros, no ambulatório de SPP do Setor de Doenças Neuromusculares da Unifesp. O capítulo discute de modo cuidadoso a SPP, uma neuropatia motora degenerativa, de etiologia multifatorial e de progressão lenta, que se manifesta em indivíduos portadores da poliomielite anterior aguda. Ocorre em indivíduos que tiveram pólio há pelo menos 15 anos, com ou sem sequela paralítica, e se caracteriza por nova fraqueza muscular progressiva, fadiga, dores musculares e/ou nas articulações, resultando numa diminuição da capacidade funcional e/ou surgimento de novas incapacidades. Um critério importante que fundamenta o diagnóstico é a confirmação da poliomielite anterior aguda com evidência de perda neuronal, por meio de exame neurológico e da eletroneuromiografia.
Os depoimentos
A última parte do livro apresenta os depoimentos dos especialistas João Baptista Risi Júnior e Ciro de Quadros, material que compõe o acervo do projeto “A história da poliomielite e de sua erradicação no Brasil” – acervo de depoimentos orais da Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz). Esses dois médicos estiveram na direção dos processos de controle e erradicação da poliomielite no Brasil e na coordenação da erradicação nas Américas. João Risi narra passagens importantes no cenário brasileiro, enquanto Ciro de Quadros discorre sobre o tema em âmbito internacional. As entrevistas tiveram como temática principal a história da poliomielite, mas foram abordados outros assuntos importantes para o entendimento da trajetória da enfermidade no Brasil e nas Américas.
Os leitores da obra A história da poliomielite muito se beneficiarão da consulta a uma obra já clássica na literatura mundial, O fim da pólio: a campanha mundial para a erradicação da doença, organizada pelo fotógrafo Sebastião Salgado (2003), com textos traduzidos dos originais em inglês de vários especialistas e estudiosos internacionais, entre os quais os médicos epidemiologistas Katja Schemionek e Chris Zimmerman e a escritora Carole Naggar, a quem o doutor Ciro de Quadros também concedeu uma entrevista, em dezembro de 2002, reproduzida na íntegra. Imagens belíssimas e impactantes, fixadas por Sebastião Salgado, acompanham o registro das campanhas de vacinação em países estrangeiros não abordados na obra organizada por Nascimento (alem do Paquistão, incluem-se relatos sobre as campanhas na Índia, na Somália, no Sudão e na República Democrática do Congo). Os autores da obra brasileira poderiam, talvez, ter buscado um diálogo com os textos do livro organizado e ilustrado por Salgado. Isso por certo não impede que a presente obra publicada pela Garamond, com apoio da Faperj, seja uma contribuição extremamente relevante à literatura. Por certo haverá novas edições da importante obra; quando isto se der, será oportuna a montagem de um cuidadoso índice onomástico e de assuntos, imprescindível em um texto de consulta obrigatória como A história da poliomielite.
REFERÊNCIAS
A história da poliomielite. NASCIMENTO, Dilene Raimundo do. (2010). Rio de Janeiro: Garamond, 2010, 416p.
SALGADO, Sebastião. O fim da pólio: a campanha mundial para a erradicação da doença. Fotos de Sebastião Salgado; prefácio de Kofi A. Annan. São Paulo: Companhia das Letras. 2003
Lina Faria - Coordenadora do Curso de Fisioterapia/Universidade Federal de Juiz de Fora. lina.faria@ufjf.edu.br

20 dezembro 2015

Obrigado por ser o Nosso Papai Noel durante nossa batalha contra as dificuldades impostas pela Síndrome Pós Poliomielite. Com toda sua atenção e carinho estamos presentes em mais um Natal, que no ano de 2016 possamos contar com sua capacidade e conhecimento, pois o mundo está necessitando urgentemente de Médicos praticamente da medicina humanizada como nosso Professor e Doutor Acary Souza Bulle Oliveiro.
 

07 julho 2015

Novo vírus misterioso poderia estar causando paralisia em crianças nos EUA

No ano passado, os EUA testemunharam uma curiosa surto de paralisia temporária entre as crianças, algo que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) se esforçou para explicar. As suspeitas foram despertadas que ele pode ter uma origem viral, e uma estirpe particular interesse recebido como uma possível causa ou fator contribuinte.
Mas parece que a situação tornou-se ainda mais desconcertante porque, um vírus diferente, mas relacionado recentemente foi isolado de um indivíduo, levando os cientistas a acreditar que este recém-descoberto tensão pode também ser o culpado.
A situação começou a se desenrolar no verão passado, quando as crianças em todos os EUA foi golpeada com uma condição chamada paralisia flácida aguda, um sinal comum de poliomielite que é caracterizada pelo rápido aparecimento de fraqueza muscular extrema e perda do tônus ​​muscular. Curiosamente, o surto, que afetou quase 120 crianças em 34 estados, coincidiu com um surto de doença respiratória causada por um tipo de enterovírus - EV-D68 - que está relacionado com os poliovírus.
Embora a correlação não implica causalidade, o momento sugeriu que poderia haver uma associação entre os dois. No entanto, EV-D68 só foi encontrada em 20% das pessoas testadas, e este vírus geralmente provoca a síndrome respiratória em vez de doença sistêmica. Enquanto isto ainda não descarta a possibilidade de que este vírus poderia ter sido envolvido, ela sugere que algum outro fator também estava em jogo. E para confundir ainda mais, um dos casos tenha agora sido associada com um tipo diferente de enterovírus, C105, que pertence à mesma espécie de enterovirus, que inclui poliovírus, Enterovirus C .
A paciente era uma menina de 6 anos de idade, de Virgínia, que foi levado para o hospital em outubro passado por fraqueza progressiva em seu lado direito, o que acabou resultando em uma perda de reflexos de seus bíceps e tríceps. Antes de exame, a criança e sua família próxima havia sido atingido com um resfriado, que é comumente causada por um tipo de enterovírus chamado de rinovírus. Embora o paciente se recuperou do frio, ela continuou a sentir dor no braço direito, do ombro começou a cair e ela lutou para usar sua mão direita.
Na sequência da admissão, uma amostra de fluido espinhal foi tomada para exame, que acabou por ser negativo para enterovírus, mas testes posteriores de um swab nasal revelou que ela estava infectada com enterovírus C105. Esse foi um achado surpreendente, dado o fato de que esse vírus só foi identificado em 2010, e os pacientes eram do Peru e da República do Congo.
Parece que C105 pertence a uma série de subespécies enterovírus C recentemente identificados, mas a maioria delas têm sido associados a doenças respiratórias. O vírus isolado na República do Congo, no entanto, foi encontrada em doentes com paralisia flácida aguda fatal.
A detecção do C105 em os EUA também indica uma presença em todo o mundo, o que poderia ser problemático porque estes subespécie detectados recentemente mostram grande variação genética da região alvo normalmente por testes. Isso poderia explicar por que, portanto, 80% das crianças norte-americanas envolvidas no surto de paralisia flácida aguda foram negativos para D68, como é possível que eles estavam infectados com o C105 em vez, mas não foi pego por testes convencionais. No entanto, a situação é ainda mais confusa com o facto de que nenhum dos pacientes nos Estados Unidos tinha enterovírus no seu fluido espinal, o que seria de esperar se o vírus está a causar o aparecimento de sintomas neurológicos. Na ausência de tais provas, o júri é ainda para fora sobre se enterovírus são responsáveis ​​pelo surto.